O primeiro-ministro defendeu hoje que é preciso que o conjunto dos factos do crime de violência doméstica seja devidamente valorizado ao longo da cadeia processual na justiça, até à fase de condenação.
Esta posição foi assumida por António Costa, depois de a deputada e presidente das Mulheres Socialistas, Elza Pais, o ter questionado sobre o que mais se pode fazer em matéria de combate à violência doméstica “no respeito pelo princípio da separação de poderes”.
O primeiro-ministro defendeu que a prioridade é identificar quais são as questões práticas que se podem resolver para, independentemente do que já está disposto na lei, fazer com que o conjunto dos factos seja “devidamente valorizado em toda a cadeia processual até à fase de condenação”.
“Obviamente temos de respeitar o princípio da separação de poderes na fase de julgamento, mas não podemos deixar que na fase de denúncia, de inquérito e de investigação, os dados não sejam devidamente considerados. Muitas vezes isso acontece pela forma como a prova é recolhida, tratada e conservada ao longo de todo o processo”, observou o líder do executivo.
Neste ponto, a título de exemplo, António Costa referiu que “uma coisa é a emoção com que cada uma das vítimas depõe e outra coisa a frieza com que esse mesmo depoimento é depois passado a escrito”.
“Uma coisa é a forma como ouvimos de viva voz o testemunho, outra coisa completamente distinta é como lemos um depoimento que foi passado a escrito. Uma coisa é aquilo que a queixosa disse a quente, em que teve a coragem de romper e ir ter com as autoridades, outra coisa é o que dirá meses depois, quem sabe até num contexto familiar já distinto”, apontou ainda.
Para António Costa, “é essencial garantir que a autenticidade da denúncia possa ser efetivamente valorizada, não só pelo agente que está a recolher o primeiro depoimento, mas que possa ser sempre valorizada até ao último magistrado que intervém”.
No plano da prevenção, o primeiro-ministro defendeu uma maior proximidade das forças de segurança relativamente às queixas que lhes são apresentadas.
“Mas, exige-se da sociedade uma maior mobilização”, afirmou, num discurso em que considerou “sinistra” e ideia de que “entre homem e mulher não se mete a colher”.
“É preciso prevenir a tempo e horas, é preciso denunciar a tempo e horas”, acrescentou, depois de a deputada socialista Elza Pais se ter insurgido por morrerem por ano, em média, 33 mulheres.
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