Se João Gouveia, o único sobrevivente da tragédia do Meco, tivesse pedido socorro na praia, a chamada do telemóvel teria acionado a Alfarim. Este é o principal argumento das famílias das seis vítimas mortais, que pediram a abertura de instrução por entenderem que João Gouveia não contou “toda a verdade”.
Vítor Parente Ribeiro, o advogado que representa as famílias, explicou o argumento das antenas: uma chamada feita na praia do Meco é identificada pela antena de Alfarim. Contudo, o pedido de socorro feito por João Gouveia, à 01h12, acionou a antena da Costa da Caparica.
Para o advogado, “isto prova que o dux não estava lá” numa altura em que os outros seis estudantes da Lusófona tinham sido arrastados por uma onda. De acordo com o processo (arquivado), o sobrevivente assegurou que nunca tinha deixado a praia.
As explicações de Vítor Parente Ribeiro não coincidem com as da Polícia Judiciária, que recorre às informações dadas pelas operadoras de serviços móveis: por motivos relacionados com o tráfego telefónico, uma chamada pode acionar uma antena que não a prevista.
A PJ sustenta ainda que João Gouveia recebeu a chamada da Polícia Marítima (que ligou de imediato para confirmar a veracidade do pedido de socorro) através da antena de Alfarim, a mesma que localiza a praia do Meco.
Em declarações à TVI, os familiares classificaram o sobrevivente como “calculista” e “dotado de uma frieza aterradora”, alegando que fugiu da praia quando os seis jovens foram arrastados por uma onda e tendo voltado para “simular” a condição de pré-afogamento, confirmada ao Ministério Público por uma enfermeira do hospital onde João Gouveia foi assistido.
A questão das antenas é apenas uma de um processo “condicionado desde o início”, segundo Vítor Parente Ribeiro.
“Esperamos demonstrar que houve uma série de situações anómalas, neste processo, que foi condicionado desde o início. E nesse processo há elementos mais do que suficientes para que exista um despacho de pronúncia. Neste processo nunca houve dúvidas de que havia um suspeito que estava a ser analisado”, argumentou o advogado.
Para os familiares, o dux da comissão de praxe tem de ser chamado a “esclarecer todas as dúvidas em tribunal”.
“O que o João conta é a verdade do João. Toda a informação a que tivemos acesso não coincide com a versão dele. Temos de desmontar o cenário. Percebe-se perfeitamente que foi um fim de semana de praxe”, afirmou Fernanda Cristóvão, mãe de Ana Catarina Soares, uma das seis vítimas mortais.
“Os familiares dos seis jovens estão unidos e convictos de que a investigação realizada ficou pela rama e que há muito por contar”, acrescentou a mesma familiar, ontem, quando o advogado apresentou no Tribunal de Almada o pedido de abertura de instrução do processo.
O caso remonta a 15 de dezembro do ano passado, a noite em que seis estudantes da Lusófona morreram após serem arrastados por uma onda, na praia do Meco.
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