O secretário-geral da UGT e dirigente do PS, Carlos Silva, rejeitou hoje a ideia de que a austeridade tenha acabado e defendeu como prioridade para o próximo Orçamento do Estado a redução do IRS.
Num jantar-conferência na Universidade de Verão do PSD, que decorre até domingo em Castelo de Vide (Portalegre), Carlos Silva foi desafiado por uma aluna a escolher uma medida a propor ao primeiro-ministro, António Costa, para incluir no próximo Orçamento do Estado.
“Olha Maria, se o primeiro-ministro me vier perguntar – não vem – mas se viesse, neste momento é fundamental baixar a carga fiscal dos trabalhadores”, afirmou, defendendo que tal redução deve passar pelo aumento dos escalões e alterações nas taxas.
Para Carlos Silva, “quem ganha 40 mil euros em Portugal não é rico, mas à luz do atual padrão do IRS são pessoas milionárias”.
O secretário-geral da UGT recordou que, em fevereiro de 2012, assinou um acordo de concertação social com o anterior Governo PSD/CDS-PP porque, se não o fizesse, seria aplicado um memorando de entendimento com a ‘troika’ que era “cem vezes pior”, lamentando as críticas na altura à central sindical.
“Nós assinámos precisamente para não afundar o país ainda mais do que aquilo que nos estavam a impor com a ‘troika'”, afirmou.
No entanto, com a saída da crise, a UGT defende agora a reversão de algumas medidas contidas nesse acordo e deixa também ‘recados’ ao atual Governo socialista.
“Também não aceitamos que nos digam que acabou a austeridade, não acabou nada, não acabou completamente”, considerou o membro da Comissão Nacional e da Comissão Política do PS.
Na sua intervenção, Carlos Silva apontou PSD, PS e CDS como “partidos charneira da democracia”, “europeus e pró europeístas” que “apoiam, mas não dominam o movimento sindical”.
“Há um partido que domina e determina ação da sua central sindical, que é a CGTP”, acusou, salientando que a “luta, os trabalhadores e o povo não são exclusivos de algumas intervenções neste país”.
O secretário-geral da UGT manifestou dúvidas de que os jovens qualificados que emigraram na altura da ‘troika’ possam regressar a Portugal devido “à política estrutural de baixos salários” e disse ser contra uma eventual limitação dos salários dos gestores.
“Ganhem lá o que quiserem, se ganharem muito são tributados nessa medida, é através dos impostos que se faz a redistribuição”, defendeu.
Salientando por várias vezes que a UGT “não é muleta de Governo nenhum”, Carlos Silva defendeu a melhoria da ferrovia e da rede viária e criticou uma posição tomada por António Costa.
“Que não sirva de desculpa de ninguém, muito menos ao primeiro-ministro, que veio dizer que tem de construir a estrada entre Coimbra e Viseu e não pode pagar aos professores. Eu isso não aceito de forma nenhuma”, assegurou.
O secretário-geral deixou ainda algumas inconfidências aos alunos da Universidade de Verão: que há muitos militantes do PSD filiados em sindicatos afetos à CGTP – “não bate a bota com a perdigota” – e uma ajuda inesperada na negociação do aumento do salário mínimo nacional (SMN) com o anterior Governo.
“Em 2014, quando passámos de 485 para os 505 euros, tivemos uma ajuda do então Presidente da República, Cavaco Silva. Numa reunião em Belém, ele disse-nos para pedirmos mais de 500: ‘peçam 503 ou 504′”, referiu.
Na altura, a UGT acordou com o governo liderado por Passos Coelho um aumento para os 505 euros e que visava compensar o congelamento do SMN iniciado no tempo do executivo socialista de José Sócrates.
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