Portugal ‘descobriu’ a falta de anestesistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) quando um especialista pediu 500 euros à hora para trabalhar na véspera e no dia de Natal. A polémica, alimentada pela Ordem dos Médicos e pela ministra da Saúde, relançou o debate sobre a importância dos anestesistas.
Num 2018 que ficou marcado por protestos de médicos, enfermeiros e técnicos de diagnóstico, foram outros profissionais de saúde a marcar o final de ano: os anestesiologistas, mais vulgarmente conhecidos como anestesistas.
Nos dias 24 e 25 de dezembro, a Maternidade Alfredo da Costa só atendeu doentes urgentes: por falta de um segundo anestesista, todos os outros pacientes foram encaminhados para outros hospitais.
Foi o rebentar de uma bomba anunciada desde junho, quando os Censos de Anestesiologia 2017 tornaram público que faltavam 541 anestesistas nos hospitais públicos.
Ao comentar o assunto, a ministra da Saúde, Marta Temido, reconheceu a importância de “reter profissionais” no SNS.
Só que um outro comentário da governante fez estalar a polémica, revelando que uma empresa prestadora de serviços indicou que tinha um anestesista disponível para trabalhar… por 500 euros à hora.
A Ordem dos Médicos contestou de imediato a ministra, levando a tutela a reafirmar que “existiu uma proposta” de 500 euros por hora “por parte dos prestadores de serviço”.
Teve então início o debate: há alguma especialidade que justifique pagar 500 euros à hora por um médico? E o que faz um anestesiologista para cobrar tal valor?
Um médico anestesista é o primeiro a ‘entrar em campo’ nas principais intervenções clínicas, uma vez que administra substâncias para aliviar a dor e remover as sensações do corpo, permitindo que outros especialistas possam operar sem causar dor ao paciente.
No Centro Hospitalar do Porto, a anestesiologia é comparada à pilotagem de um avião: o médico anestesista “assume a responsabilidade de conduzir o ‘passageiro’ numa viagem que inclui um levantar voo suave (adormecer), um percurso tranquilo (inconsciência durante o procedimento) e uma aterragem segura (despertar)”.
São os responsáveis pelo controlo de funções vitais (respiração, atividade do coração, circulação do sangue, funções do cérebro e outras) enquanto o paciente está sedado.
“Uma anestesia geral pode envolver entre 10 a 15 medicações diferentes, para garantir que o paciente não sente dor nem se mexe”, complementa Luiz Falcão, um dos principais especialistas de São Paulo (Brasil).
No caso da Maternidade Alfredo da Costa, compete aos anestesiologistas administrar a epidural, uma analgesia que permita à grávida manter o controlo do corpo durante o parto sem sentir dor.
A anestesia como prática clínica data de 1846 e a formação de um anestesista dura 12 anos.
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