“O problema verdadeiramente grave é que a decisão estreitou consideravelmente a margem de afirmação das alternativas democráticas ao impor um limite ideológico ao que é politicamente aceitável no regime, mesmo que mude a Constituição”, argumentou Vítor Bento, em entrevista ao Público.
Ao definir esse “limite ideológico”, o TC só deixa “três portas abertas” para o Governo corrigir as receitas previstas e agora ‘chumbadas’ por inconstitucionalidade: “impostos, fecho de serviços ou despedimentos”. “Não vejo outra via”, assegurou o presidente da SIBS.
Apesar de Passos Coelho, cuja mensagem ao país pareceu “muito boa” a Vítor Bento, ter garantido que não vai aumentar os impostos, o economista insiste que a medida não pode ser descartável. “É indesejável, mas não é impraticável”, reconheceu o conselheiro de Estado, sustentando: “os decisores e as sociedades são livres de tomar as suas decisões, têm é de tomar o preço da responsabilidade. O TC também faz implicitamente a sua escolha de um caminho orçamental”.
“O que é um segundo resgate?”
Entre essas “decisões” está a eventualidade de Portugal pedir um segundo resgate, expressão que Vítor Bento diz desconhecer. “O que é um segundo resgate? Ainda não consegui perceber. Se for para aumentar o empréstimo, não vejo que seja um resgate”, considerou, na mesma entrevista.
Frisando que Portugal tem de “manter a credibilidade” no plano externo, o economista defendeu ainda as previsões do Governo, criticadas pela oposição parlamentar por raramente coincidirem com a realidade: “estamos numa situação de turbulência que altera os parâmetros económicos dos modelos. Os instrumentos têm a fiabilidade que têm, mas se não há outros melhores…”
O presidente da SIBS reconhece que “terá havido erros na concepção do modelo de ajustamento”, com especiais repercussões no desemprego, onde o “problema é preocupante”. Quanto à revisão das metas e números na sétima avaliação da troika, foi “um acidente de percurso, ainda que desfavorável”.
“Dá-se uma excessiva importância à fiabilidade das previsões económicas, como se a economia fosse uma ciência exacta, que não é. É uma ciência aproximada”, defendeu Vítor Bento, confessando que “ficaria infeliz se as previsões acertassem, porque isso significaria que a natureza humana tinha perdido o livre arbítrio e se tinha robotizado”.
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