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Vídeo: Os ratos que salvam vidas em África

Associados à morte, como símbolo da propagação de doenças, os ratos também podem salvar vidas. Uma espécie gigante está a ser treinada para detetar minas em África, levando os humanos a desativar os engenhos que custam a vida a milhares de pessoas por ano.

Durante muitos séculos, as pessoas optaram por evitar, fugir e matar os ratos. Porém, em África, estes roedores são heróis que salvam vidas.

A APOPO, uma organização não governamental da Bélgica, está a treinar uma espécie de rato gigante, Cricetomys gambianus, para detetar minas antipessoal através do cheiro.

Os resultados surpreenderam os investigadores quando os ratos demonstraram que também conseguiam descobrir os focos de algumas doenças contagiosas, sobretudo tuberculose.

Desde 2006, quando o projeto teve início, os ratos permitiram desativar mais de 13 mil minas em Moçambique, libertando (para uso agrícola) mais de 11 milhões de metros quadrados de terreno.

Neste período de tempo, foram também analisados mais de 250 mil amostras de sangue que poderia estar infetado com tuberculose.

Mas a verdadeira origem do projeto remonta aos tempos em que Bart Weetjens, o fundador da APOPO, era um estudante universitário em Antuérpia, na Bélgica: “Sempre tive roedores como animais de estimação e percebi que eram fáceis de treinar, sociáveis e muito inteligentes”.

A determinada altura, Weetjens leu um artigo sobre o treino de gerbilos (ou ratos do deserto) para deteção de explosivos. “Pensei que podia ser a melhor solução para aquelas comunidades no fundo da pirâmide, sem acesso às tecnologias mais avançadas das potências internacionais”, argumentou.

Depois de uns primeiros ensaios, o então estudante focou-se nos ratos gigantes africanos típicos da África subsariana, os Cricetomys gambianus.

O treino de cada um destes animais é de quase 7000 dólares por ano. Acha caro? Pois fica mais barato do que treinar um cão ou até uma pessoa para o mesmo fim.

Mas há mais vantagens: uma pessoa com um detetor de metais consegue cobrir 200 metros quadrados de terreno em cinco dias, mas um destes ratos precisa de apenas 20 minutos.

Ainda assim, o factor mais importante de todos é peso, uma vez que estes ratos, apesar de gigantes, são demasiado leves para fazer explodir uma mina antipessoal.

Outra estatística que confirma o sucesso é o número de baixas. Desde 2006 que não morreu um único rato detetor de minas. Nenhum, sequer, ficou ferido.

Refira-se que a APOPO, entre outros cuidados (como aplicar protetor solar nas orelhas do rato, para que não desenvolva cancro da pele), manda os animais para a ‘reforma’ quando atingem uma determinada idade, permitindo-lhes viver até ao fim dos dias.

“No meu primeiro dia fiquei aterrorizado ao ver esqueletos, ainda com uniformes militares, espalhados pelo terreno. Fiquei em pânico ao pensar que os ratos, ao escavarem, poderiam fazer explodir uma mina”, recordou Abdullah Mchomvu, um dos treinadores de roedores da APOPO, que há 12 anos começou a trabalhar na província de Gaza, em Moçambique.

“Com o tempo, perdi o medo e agora entro em qualquer campo minado desde que os ratos estejam lá e não encontrem nada”, concluiu.

Nem todos os ratos da APOPO são treinados para a desminagem. Muitos vão parar ao despiste da tuberculose. Vários laboratórios, em vários países, encaminham as amostras negativas para os ratos e sempre que dois roedores detetem um caso suspeito de falso negativo a amostra em causa é reanalisada pelo laboratório.

De acordo com os dados da instituição, os ratos já deteram mais de 7000 casos de tuberculose que haviam passado por uma primeira despistagem em laboratório.

As estimativas apontam para que estes 7000 casos tenham evitado mais de 24 mil novas infeções.

“Em Moçambique, as pessoas que antes lutavam e colocaram as minas apertaram as mãos e foram-se embora”, concluiu Weetjens: “Mas as minas ficaram nos terrenos e mataram milhares e milhares de agricultores. Agora, os nossos ratos limpam os terrenos e ajudam as pessoas a usá-los novamente. São uns heróis”.

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