Conceição Queiroz, jornalista da TVI, foi alvo de insultos, durante um direto em Lisboa, em que abordava o desconfinamento, com entrevistas de rua. Uma mulher abordou a repórter, obrigando a interromper o direto.
Entre as frases percetíveis, pode ouvir-se “vai trabalhar para as obras”, ou “não tens jeito nenhum para isto”. Conceição Queiroz teve de interromper o direto, por culpa de uma mulher, que insistiu em atacá-la verbalmente.
“Levou-me ao limite! Felizmente está registado… para os que dizem que exageramos quando explicamos que todos os dias enfrentamos gente maluca e histórias desprezíveis. Tive sangue frio. Admito. Obrigada a todos pela força”, escreveu a jornalista, nas redes sociais.
Esta não é a primeira vez que Conceição Queiroz é alvo deste tipo de atos. E já o denunciou, nas redes sociais. “Dizem de tudo. Que me prostituí para chegar onde estou (mulher africana é burra. Tem de dormir com alguém para subir na vida), que não entendem como me dão trabalho que é só para brancos, ordenam que me vá embora, ligam para o meu local de trabalho a pedir que seja afastada, (atendi uma dessas chamadas), dizem ‘sua preta, tiras o lugar aos portugueses, devias ser violada, tens essa boa disposição irritante, andas na ‘coca’…”, relatou, recentemente.
A jornalista diz que lida com estes agressores diariamente. “Enfrento-os. A minha preocupação são os outros (igualmente destratados) sem a estrutura que me acompanha. É por isso que não deixo de lutar. Em plena pandemia desejarem-nos a morte. É patológico, mas também maquiavélico. Peço aos agressores que continuem a atacar-me, mas abandonem quem (ainda) não se defende e fica com cicatrizes para o resto da vida”, escreveu.
“Há negros bem-sucedidos e tolerados, os sem agenda e de espírito servil. Entretanto as notícias são boas: nós, negros, apostamos ainda mais na formação. Já se riram ao descobrir que estou a tirar o doutoramento. Aos ditos digo que vou seguir para o Pós-doutoramento. Comunidade, amados e amadas, invistam na formação – não é fácil. Trabalhei com orgulho em restaurantes para pagar propinas”.
Conceição Queiroz realçou que não generaliza. E sabe distinguir. “Obrigada aos brancos que estão connosco, pois não generalizo. Não baixem a cabeça, não aceitem o desrespeito. Não sejam violentos, mas afirmativos. Honrem a memória dos que lutaram e morreram por nós. Como diz P. Chiziane (referência da literatura moçambicana) Deus não criou África por engano, mas por amor”.
O vídeo do ataque de ontem ganhou eco nas redes sociais e serve de reflexão:
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