Associações de língua gestual acusam intérprete de fraude, na ‘tradução’ dos discursos do funeral de Nelson Mandela, que mereceram transmissão em direto para diversos países, a partir de África do Sul, nesta terça-feira. “Ele não traduziu nada. Parecia que estava a espantar moscas”, afirmou Cara Loening, diretora do centro de linguagem gestual da Cidade do Cabo.
As imagens de um intérprete de língua gestual falso correm mundo e estão a revoltar os sul-africanos, que encaram esta fraude como um insulto à memória de Nelson Mandela.
O ato ocorreu durante a cerimónia do funeral de Mandela, ontem, no Estádio de Soweto. Um homem surge ao lado de quem discursa e faz gestos que se subentendem ser de língua gestual.
No entanto, tratava-se de uma fraude, que a Federação Africana de Surdos já denunciou, de acordo com o ITV News. “O homem estava a fazer os gestos que pretendia e não a traduzir qualquer discurso”, garante aquela federação.
Perante esta fraude, surgem diversas reações de revolta e incredulidade, não apenas pela aparente brincadeira – durante uma cerimónia oficial de uma personalidade tão importante como Nelson Mandela – mas também pelo facto de a organização não ter contratado um profissional em língua gestual para servir de intérprete aos diversos discursos da cerimónia.
O caso gerou também muitas perguntas. Quem é o homem? Com que objetivo fez de falso intérprete? Em declarações à agência Reuters, Delphin Hlungwane, intérprete de língua gestual africano, revela que “ninguém sabe quem é nem sequer o seu paradeiro”.
“Ele não fez nada, não se viu nem sequer um gesto. Limitava-se apenas a abanar os braços. Parecia que estava a espantar moscas da cara e da cabeça”, afirmou a diretora do centro de língua gestual da Cidade do Cabo, Cara Loening, que fala em ultraje.
“A comunidade de surdos da África do Sul sente-se ultrajada. Ninguém sabe quem é o intérprete”, acrescentou Cara Loening.
O vídeo foi parar às redes sociais e gerou na comunidade mundial um misto de incredulidade e revolta. Veja as imagens do falso intérprete:
Mas este episódio de fraude do intérprete não foi o único a marcar a cerimónia do funeral de Nelson Mandela. Além da homenagem a um homem eterno, a cerimónia proporcionou um aperto de mão promovido por Barack Obama a Raúl Castro, visto como uma aproximação entre EUA e Cuba, países historicamente de relações cortadas.
No entanto, esse gesto ganhou contornos políticos e serviu de arma de arremesso do Partido Republicano, que acusou Obama de se aproximar a um “tirano impiedoso”.
“Quando um líder do mundo livre aperta a mão cheia de sangue de um tirano impiedoso como Raúl Castro, esse gesto torna-se num golpe de propaganda para o tirano”, disse Ileana Rós-Lehtinen, do Partido Republicano.