Nas Redes

Vídeo: Enfermeira faz relato dramático sobre urgências em Portugal

O programa ‘Prós e Contras’, da RTP, ficou marcado pelo depoimento dramático de uma enfermeira, que fez um retrato angustiante sobre a sua experiência nos hospitais portugueses. Vanda Veiga é a enfermeira que se tem tornado mediática depois de ter exposto – até com exemplos delicados – a situação do Serviço Nacional de Saúde (SNS). “Já trabalhei em contextos de guerra e nunca vi coisas como vejo aqui”, declarou. Veja o vídeo.

Vanda Veiga, que trabalha no Hospital do Barreiro, começou por revelar que já teve de “decidir se um canto de um corredor ia ser ocupado por um doente” e explicou para que serve, normalmente, aquele canto.

“É muito complicado porque aquele é o canto para aqueles que já não estão cá, que estão de partida, que já não se apercebem tanto da realidade porque a porta está sempre a bater, está sempre a fazer corrente de ar ali”, salientou.

“Quando chegamos ao ponto de ter de tomar estas decisões, ou quando temos situações que no meio do corredor há um doente a fazer convulsão e eu não consigo chegar lá com o carro de urgência, nem consigo tirar a maca para a reanimação, eu pergunto, a nível superior, se as pessoas têm noção do que é esta indignidade?”.

Mas o relato arrepiante da enfermeira vai mais além.

“Quando a técnica de análises acaba de fazer a recolha num serviço de observação cheio com 50, 60, 70 macas e vem informar a enfermeira que está lá uma pessoa que já lá não está, que está morta e a enfermeira diz ‘eu sei mas ainda não tive tempo de lá chegar’ estamos a falar do quê? Eu estive quatro anos a trabalhar assim. Isto não é pico nenhum. Eu tenho de dizer a verdade. Isto não é pico nenhum”, disparou a enfermeira, falando sobre a gripe que leva mais doentes às urgências.

“A diferença que a gripe faz é que em vez de 40 estão lá 45 a mais”, insistiu, dizendo que “isto é a realidade”.

Esta enfermeira, profissional há 27 anos, revela que pediu para sair deste serviço “há seis meses”.

“Com muita dificuldade saí daquele serviço e continuo a receber doentes de lá”, revelou a enfermeira que, atualmente, trabalha numa unidade de cuidados paliativos.

“Tive uma senhora de 94 anos que me agradeceu, a chorar, o facto de ter tido uma cama numa enfermaria ao fim de quatro dias numa maca. E recebi um doente agónico que passou três dias numa maca, chegou ao serviço e poucas horas depois morreu. E sabe Deus o estado em que ele estava, porque isso eu não posso contar.”

Na RTP, Vanda Veiga reforçou ainda que “isto são os problemas” e “eles existem”.

“Não me venham dizer que nós não damos a cara, não me venham dizer que não temos noção de que a situação é grave, indigna e de uma falta de respeito pela vida das pessoas.”

“É horrível. Eu já trabalhei em situações mais complexas do que estas. Eu já trabalhei em Angola e na Guiné em contextos de guerra e nunca vi coisas como vejo aqui. Eu nunca vi coisas como vejo aqui”, reforçou.

Fátima Campos Ferreira, apresentadora do programa, falava com Vanda Veiga e soltou: “Isso não sei se será assim…”.

Porém, a enfermeira argumentou: “Garanto-lhe que não vi [algo semelhante em cenários de guerra]. Uma coisa é estar a trabalhar pontualmente com más condições, outra é estar cronicamente.”

Fátima Campos Ferreira pediu para que a comparação não fosse feita. “Apesar de tudo os meios aqui são mais.”

No retrato que fez do SNS, Vanda Veiga referiu ainda que Portugal “tem os meios” mas “há muita pedra para partir no SNS e no sistema de saúde”.

A enfermeira explicou também que a população que ocupa “aquelas macas” é população “mais vulnerável e que não se queixa”.

“É um horror só de pensar nisso”, soltou Fátima Campos Ferreira.

Saúde nos lares de idosos

No retrato que fez sobre a realidade nas urgências dos hospitais, a enfermeira teve tempo ainda para falar sobre a saúde em lares de idosos e diz que “é um escândalo” o que tem visto.

“A rede de cuidados continuados integrados precisa de ser reformulada profundamente”, salientou, dizendo ainda que muitos idosos são levados às urgências para fazer “aspiração de secreções”, uma vez que não são feitas nos lares.

A finalizar a sua intervenção, a enfermeira deixou no ar algumas questões, confiando que os profissionais de saúde estão “do lado da solução”.

“Há linha verde para o AVC, há linha verde para o doente coronário, há cuidados pediátricos, há urgência de obstetrícia, psiquiátrica. Não há uma urgência geriátrica porque?”

As declarações de Vanda Veiga já se tornaram virais pela realidade dramática que esta profissional de saúde relatou na televisão pública.

Veja o vídeo:

Em destaque

Subir