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Vídeo: As notícias cantadas em rap

No Uganda há um programa que dá as notícias de forma diferente: ao som do rap. Com batidas de hip hop, os apresentadores do Newz Beat ‘raportam’ a realidade de um país que ainda enfrenta várias formas de censura.

Todos os fins de semana, a emissora NTV, do Uganda, tem um noticiário diferente. Num país onde a censura ainda é uma realidade e a população tem dificuldade em acreditar nos media mais conservadores, os apresentadores do Newz Beat ‘raportam’ a realidade ao som do rap.

O Newz Beat tornou-se num fenómeno e, apesar de cada programa ter apenas cinco minutos de duração, é mais visto do que o noticiário ‘sério’ que é emitido logo a seguir.

Em cada programa são analisados quatro temas, que tanto podem ser locais como internacionais, em inglês e em ganda (ou luganda), a segunda língua mais falada no país.

Como mais de 90 por cento das casas no Uganda não têm acesso à electricidade, ver o Newz Beat tornou-se numa festa comunitária: as pessoas juntam-se em qualquer local onde haja um projetor e uma parede.

“O início foi complicado e as pessoas queixavam-se de não perceber o que estávamos a fazer, mas com o tempo abriram a mente e perceberam que este é um formato único. Sabemos que até os empresários e os altos governantes vêem o programa”, adiantou Sharon Bwogi, que assumiu o nome profissional de Lady Slyke e é a atual ‘rainha do hip hop’ no país.

Lady Slyke costuma partilhar a apresentação do Newz Beat com o rapper Survivor (Daniel Kisekka, de seu nome original) e com MC Loy (o repórter cujo nome de baptismo é Zoe Kabuye).

MC Loy, de 14 anos, é a face mais visível de como o programa está a influenciar a juventude do país, até por ser o único que “promove a diversidade e dá visibilidade a grupos marginalizados”.

“Alargamos os limites da imprensa tradicional. Os meus amigos diziam que os noticiários eram aborrecidos, mas mudaram de opinião quando começaram a ver o Newz Beat”, acrescentou o jovem repórter.

“É preciso ouvir as notícias como se fossem arte”, acrescentou Survivor, de 40 anos e o mais velho do trio (Lady Slyke tem 28): “Ao início viam só pelo entretenimento, mas depois começaram a perceber que estamos mesmo a dar notícias, que não são apenas graçolas sobre mulheres e bebidas alcoólicas”.

O programa, que começou a ser emitido em 2013, é produzido por Paul Fazone, um dos poucos ugandeses com uma pós-graduação e fundador da Peripheral Vision International.

“Havia uma questão que me preocupava: Como encaixar a cultura pop com a atual forma de distribuição dos media, de forma a que as pessoas escolhessem os conteúdos que mais lhes interessassem?”, recordou.

Como a média de idade da população do Uganda é de 15,5 anos, o rap tornou-se na solução. “É mais fácil treinar um rapper para ser jornalista do que um jornalista para cantar rap”, afirmou Fazone.

O Newz Beat não tem tabus: qualquer tema pode ser abordado. Mesmo a corrupção, um dos problemas mais graves do país. É que no Uganda ainda vigoram várias formas de censura, pelo que o programa ‘raporta’ os escândalos de corrupção noutros países com alusões que o povo entende serem dedicadas ao regime ugandês.

“Não nos podem acusar de denegrir a imagem do país ou do Presidente do Uganda porque exibimos as notícias de outros países e pessoas”, explicou Lee Shaker, um professor da Universidade de Portland (EUA) que está a colaborar com o Newz Beat no âmbito de uma investigação académica.

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