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Verão traz atividades arqueológicas de norte a sul do país para miúdos e graúdos

A chegada do verão está a trazer o início das campanhas arqueológicas, que oferecem a miúdos e graúdos a oportunidade de participar em escavações de Norte a Sul do país e descobrir mais sobre arqueologia, património e o trabalho dos arqueólogos.

Entre junho e setembro são muitas as autarquias de Norte e a Sul do país a lançar iniciativas arqueológicas (cuja informação pode ser encontrada em sites de arqueologia e das próprias autarquias) que oferecem, entre outras coisas, a possibilidade de participar em escavações.

Por exemplo, em Mértola, distrito de Beja, até 16 de setembro crianças, jovens e adultos podem participar no programa “Uma atividade de ciência para todos”, em Proença-a-Nova (Castelo Branco) já está a decorrer o VII Campo Arqueológico Internacional e no Museu da Lourinhã, Lisboa, há atividades relacionadas com arqueologia, paleontologia e etnografia.

Em declarações à agência Lusa a arqueóloga e vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia Jacinta Bugalhão explicou que o aumento das atividades arqueológicas no verão deve-se ao clima, que é mais propício, mas também porque é uma tradição antiga.

“É uma tradição que vem do passado porque era no verão que os arqueólogos iam escavar. Por isso, todos os anos por esta altura há imensas iniciativas arqueológicas. As pessoas podem visitar, participar em escavações. Basta ter acesso às redes sociais da área da arqueologia onde surgem todos os dias convites para participar e ofertas, ou seja, há um grande esforço dos arqueólogos para mostrar o que existe e o que se faz”, disse.

No entendimento de Jacinta Bugalhão, a arqueologia é de todos, é um património que pertence a todos.

“É uma preocupação sempre presente para os arqueólogos chamar as pessoas para participarem, para saber como é, como se faz e chamar a atenção das pessoas para o setor e os seus problemas”, destacou.

Tal como muitas outras profissões, a área da arqueologia também vive atualmente grande instabilidade e precariedade.

“Os arqueólogos têm condições de trabalho muito difíceis, precárias. A maioria falsos recibos verdes. Temos pessoas contratadas por várias entidades, empresas de arqueologia, empreiteiros, empresas de estudos de impacte ambiental e também por organismos públicos que trabalham durante algum tempo e depois deixam de trabalhar e voltam sempre com níveis remuneratórios muito baixos”, disse.

Esta posição de Jacinta Bugalhão é também defendida pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Arqueologia, Regis Cardoso, que adiantou à Lusa que existe um número elevado de pessoas com licenciatura e mestrado a ganhar o ordenado mínimo nacional.

“Estamos a falar de uma classe que tem pouco mais de 1.000 profissionais no país e que na sua maioria recebe à volta de 700 euros”, disse.

De acordo com Regis Cardoso e Jacinta Bugalhão, as pessoas vão para a arqueologia por paixão, mas as condições são tão duras que os níveis de desistência são bastante elevados.

“Oitenta por cento dos arqueólogos não tem um vínculo laboral estável, o que não dá para fazer um trabalho decente”, disse Jacinta Bugalhão.

Outros dos problemas apontados por Jacinta Bugalhão tem a ver com o facto de “a entidade púbica que tutela a atividade arqueológica como a Direção-Geral do Património e as direções regionais de cultura não terem meios para promover uma fiscalização adequada, identificação de problemas e elaboração de soluções.

“Temos também problemas ao nível da investigação científica. As pessoas têm de investigar e publicar, mas não têm financiamentos (…). Os apoios públicos são muito poucos. Depois há outro problema muito sério que é a gestão do espólio”, disse.

Jacinta Bugalhão explicou que sempre que há uma intervenção arqueológica recolhe-se espólio, que tem vindo a aumentar com a subida do número de intervenções, especialmente nas cidades, mas as instituições estão sem capacidade para acolher.

Devido a toda a situação, Jacinta Bugalhão, considera importante o envolvimento de todas as pessoas na atividade arqueológica, porque “também é um problema de todos e não só dos arqueólogos”.

“Só tornando os problemas comuns é que um dia poderemos ter soluções. São problemas comuns a toda a sociedade. Se o património é de todos o problema é de todos, daí a importância dos exercícios de cidadania por parte dos arqueólogos”, disse.

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