Economia

“Vamos ter de voltar à austeridade”, avisa César das Neves

Um dos economistas que mais defendeu as políticas de austeridade voltou a avisar que… vamos ter de voltar a elas. César das Neves teme pela “reação de um país a quem convenceram de que já estava tudo bem e de que a economia está uma maravilha”.

Em entrevista ao Dinheiro Vivo, o economista que foi um dos mais públicos defensores do ‘apertar do cinto’ do Governo de Passos Coelho apontou os “vários sinais ameaçadores no horizonte”, a começar pela falta de liquidez.

“Toda a economia mundial está ainda a injetar liquidez, a única exceção é a economia americana, mas com muito medo. A economia europeia continua a meter liquidez a uma taxa alucinante todos os meses e o mesmo se passa na economia japonesa, britânica, etc”, salientou.

Esta injeção de dinheiro cria uma “anestesia”, da qual resultou o ‘adormecimento’ das economias europeias desde o turbilhão desencadeado pela ‘crise do subprime’ de 2017.

“As economias ocidentais estão ainda com a anestesia e não a podem tirar ao fim de sete ou oito anos de crise”, continuou o economista.

E são as economias periféricas, como é o caso de Portugal, que vão pagar a fatura mais elevada.

“Nós estamos com gravíssimos problemas de capital, de trabalho e de produtividade, que são os três elementos mais importantes da produção e que não estão a ser tratados”, alertou César das Neves.

De dedo apontado às “jogadas políticas” que anunciam a “reposição de rendimentos” ou respondem às exigências de categorias profissionais (como “professores” e “médicos”), o economista lembrou que a “expansão” económica já vai no quinto ano… sem que se vejam mudanças na economia nacional.

“Há vários sinais ameaçadores no horizonte. Uma coisa destas que se precipite afeta a economia portuguesa com um choque enorme e, nessa altura, será muito difícil as pessoas dizerem ‘vamos voltar à austeridade’. Mas vamos ter de voltar à austeridade porque, de facto, não foram feitas as reformas estruturais”, insistiu.

O defensor público da austeridade’ manteve o tom profético: “Qual será a reação do país – a quem convenceram de que afinal não era preciso ter tido austeridade, a quem convenceram de que já estava tudo bem e de que a economia está uma maravilha – ao descobrir que afinal a economia não está nada uma maravilha?”

“É este degradar da confiança nas forças políticas que me assusta e que já está, nos EUA e na Europa, a gerar um aumento do extremismo e uma turbulência que é assustadora”, reforçou o economista.

E não será preciso muito. “A economia portuguesa está a ser puxada muito pelas exportações e pelo consumo privado”, que não são “sustentáveis”.

“O problema não está no gatilho”, concluiu César das Neves: “O problema é que temos tudo cheio de pólvora, assim que houver uma pequena explosão isto rebenta”.

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