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Utilizadores de bicicleta e trotinete em Faro lamentam falta de condições

Um grupo de utilizadores diários de bicicleta e trotinete, em Faro, lamentou hoje a falta de condições de segurança na cidade para a circulação destes veículos, agravada pela entrada em funcionamento de um sistema partilhado de trotinetes elétricas.

Em fevereiro, Faro tornou-se na segunda cidade portuguesa a implementar um sistema partilhado de trotinetes, depois de Lisboa, e a autarquia prepara-se para lançar ainda este ano um concurso para um sistema público de bicicletas, estando igualmente planeada a construção de uma rede de ciclovias.

Embora aplaudam as medidas, elementos do movimento de cidadãos “Faro a Pedalar” disseram à Lusa considerar que não estão reunidas as condições de segurança para a coexistência dos vários meios de transporte e lamentam que o Plano de Mobilidade e Transportes, aprovado no ano passado, esteja a ser executado “pela ordem inversa”.

Joana Martins, empresária residente em Faro e que se desloca diariamente de bicicleta, alega que uma das primeiras medidas a implementar deveria ter sido a construção de ciclovias, bem como a introdução de medidas de acalmia de tráfego e a colocação de sinalização, intervenções planeadas, mas que ainda não foram executadas.

Em 11 de fevereiro, no dia em que foi apresentada publicamente a rede partilhada de trotinetes, a Câmara de Faro anunciou a construção de seis quilómetros de novas faixas cicláveis e a remodelação de outras já antigas, mas o plano inicial, cuja proposta foi apresentada há dois anos, prevê 40 quilómetros de ciclovias.

Ricardo Martins faz todos os dias seis quilómetros de trotinete entre casa e o trabalho, mas teve de começar a usar o passeio, pelo desconforto e o perigo que sente em andar nas estradas de alcatrão ou de paralelepípedos, devido à irregularidade e mau estado do asfalto.

“Há zonas em que o trânsito é lento e aí consigo andar na estrada, o problema é o estado das vias”, conta o engenheiro, confessando que já apanhou “alguns sustos” e que só se sente verdadeiramente seguro quando utiliza o passeio, o que também requer “alguma habituação”.

Tal como os outros membros do grupo, Joana Magalhães viveu fora do país e quando voltou para Faro quis continuar a usar a bicicleta como meio de transporte diário, mas lamenta que a estrutura “não tenha sido bem pensada” na capital algarvia, o que se repercute, também, no número insuficiente de lugares de estacionamento para bicicletas.

“Primeiro têm de se arranjar as condições: estacionamento, sinalização. Não são só as vias”, defende a médica, argumentando que, para haver uma alteração de comportamentos relativamente ao uso do automóvel, é preciso haver uma “discriminação positiva” para quem usa outros meios de transporte, o que não se verifica.

Humberto Glória critica o facto de o modelo de aluguer das trotinetes não ser inclusivo – por só poder ser feito através de uma aplicação para dispositivos móveis -, além de o preço também não ser apelativo: o desbloqueio custa 1 euro e cada minuto 15 cêntimos, o que significa que uma hora equivale a 10 euros.

“Usa-se esta medida como uma bandeira para combater o uso do carro na cidade, mas essa não é a realidade em que vivemos. Com o custo que tem, não vai ser benéfico para o dia-a-dia das pessoas, que vão preferir andar a pé a gastar 10 euros por hora”, ilustra o engenheiro.

A somar à quase inexistência de ciclovias ou faixas de circulação em perímetro urbano e à deterioração das poucas existentes, os elementos do grupo criticam a desorganização na cidade causada pelas trotinetes, considerando que “dá má imagem à cidade” ver os veículos abandonados ou caídos nas ruas.

Em declarações à Lusa, o presidente da Câmara de Faro, Rogério Bacalhau (PSD), disse que o município está a acompanhar eventuais problemas que possam decorrer da atividade, lembrando que se trata de “um negócio 100 por cento privado”, que não foi desenvolvido pela autarquia.

“Não há neste momento nenhum município com regulamentação própria para este tipo de atividades, no futuro provavelmente iremos fazer alguma regulamentação sobre a matéria”, declarou, lembrando que isso se aplica não só às trotinetes, como aos ‘tuk-tuk’ que circulam na cidade.

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