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E se usarmos a autobiografia de Hitler para combater o nacionalismo atual?

Um escritor quer usar a autobiografia de Hitler como ‘antídoto’ para o nacionalismo. Timothy Snyder, prestes a lançar ‘Terra Negra’, defende que o ‘Mein Kampf’ deve ser enquadrado para as novas gerações, pois só a contextualização permitirá entender “as destruições dos Estados”.

O regime nazi não tem sido analisado como o que perigo que ameaçava ser: uma ideologia para destruir estados e instituições baseada no caos.

A ideia é defendida por Timothy Snyder, o historiador que vai lançar, dia 5, ‘Terra Negra’, uma análise do Holocausto como “história e aviso”.

“Temos a tendência de ver o Holocausto como tendo sido provocado por um Estado autoritário. Mas e se o Holocausto foi causado por um tipo de Estado que destrói os outros Estados? Desta forma, podemos ver as consequências das destruições dos Estados”, argumentou Snyder, em entrevista à agência Lusa.

Para este professor de História na Universidade de Yale (EUA) e vencedor do Prémio Hannah Arendt, a história do Holocausto tem de continuar a ser um tema contemporâneo, pois a visão do mundo hitleriano não se esgotava no genocídio dos judeus.

Havia toda uma “coerência secreta” que provocou um novo tipo de política destrutiva e um novo conhecimento sobre a capacidade para o homicídio em massa, sustentou o historiador e autor: “Eu creio que a invasão norte-americana do Iraque em 2003 foi feita com base numa ideia errada do que foi o Holocausto. Uma das razões para a invasão foi a ideia de que se anularmos o Estado coisas boas podem acontecer, quando era evidente que a destruição do Estado iraquiano só podia conduzir a coisas más”.

“Da mesma forma”, acrescentou, “estou preocupado com a intervenção russa na Ucrânia, em parte porque põe em causa fronteiras legítimas e Estados legítimos na Europa, o que nos pode conduzir por caminhos perigosos”.

Os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial deixam Timothy Snyder “muito preocupado” com uma eventual desintegração da União Europeia, provocada pela subida dos nacionalismos populistas (sejam na Hungria ou na França).

Uma dissolução da Europa “não é apenas uma coisa má” porque muitos dos Estados podem “rapidamente” ser postos em causa se não se encontrarem no quadro da União Europeia, lembrou o historiador.

Daí que Snyder defenda que as lições do Holocausto, sobre o “de facto aconteceu”, devem ser compreendidas perante o contexto atual e não à luz das sociedades existentes na altura da Segunda Guerra Mundial.

“Se o meu argumento estiver correto, então devemos olhar para coisas que geralmente não vemos. Eu concordo com as pessoas que dizem que devemos estar em alerta sobre o antissemitismo, mas as ideias de Hitler foram publicadas numa altura de grande insegurança e de escassez de recursos alimentares nos países desenvolvidos do ocidente”, argumentou.

“As pessoas devem entender isto”, insistiu o historiador: “Podemos regressar aos tempos de escassez de alimentos? É possível. Os chineses, por exemplo, podem comportar-se de forma semelhante aos alemães dos anos 1930”.

É por isso que o autor de ‘Terra Negra’ defende uma análise do infame ‘Mein Kampft’ desde que enquadrado num mundo agora global: “Hitler é filho da primeira globalização (Primeira Guerra Mundial). Nós somos filhos da segunda globalização (Segunda Guerra Mundial). As ideias horríveis que ele tinha eram coerentes com a globalização e foram uma reação que conduziu a essa mesma globalização para um fim extraordinariamente sangrento”.

Timothy Snyder é considerado um dos mais importantes e polémicos historiadores do século XX, tendo publicado, entre outros, ‘Terras Sangrentas’, sobre o genocídio dos judeus no leste europeu durante a Segunda Guerra Mundial, além de inúmeros artigos sobre o genocídio dos judeus e de outros povos pelos regimes nazi e comunista.

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