Uma em cada quatro pessoas teve de pagar subornos em serviços públicos em África, segundo um estudo da Transparência Internacional, que revela também que a maioria da população acredita que a corrupção está a aumentar no continente.
O Barómetro Global da Corrupção África 2019, da organização Transparência Internacional em parceria com Afrobarometer, revela que mais de um em cada quatro cidadãos que recorreram a um serviço público africano nos 12 meses anteriores ao inquérito, teve de pagar um suborno, o que equivale a cerca de 130 milhões de pessoas.
O barómetro inclui dados de 35 países, incluindo Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, entrevistou 47 mil pessoas e decorreu entre setembro de 2016 e setembro de 2018.
A Républica Democrática do Congo (RDC), com 80 por cento, é o país com a maior percentagem de utentes dos serviços públicos que pagaram subornos, enquanto, no extremo oposto, as ilhas Maurícias são o país com menor percentagem de pagamento de subornos pela população, 5 por cento.
Em Moçambique, 35 por cento (34 por cento em 2015) dos utentes dos serviços públicos declararam ter pago subornos, percentagem que é de 16 por cento (23 por cento em 2015) em São Tomé e Príncipe e de 8 por cento (2 por cento em 2015) em Cabo Verde.
O estudo revela ainda que a maioria dos cidadãos (55 por cento) acredita que a corrupção aumentou no seu país durante o mesmo período, enquanto 23 por cento pensa que está em declínio e 16 por cento não identificam qualquer mudança.
Em 22 dos 35 países, são significativas as percentagens (acima de 60 por cento) de cidadãos consideram que a corrupção está em crescimento.
A RDC lidera uma vez mais a lista com 85 por cento dos seus cidadãos a sustentarem que o país está mais corrupto, mas em países como o Sudão ou o Gabão as taxas atingem também os 83 por cento e os 80 por cento respetivamente.
Nos lusófonos analisados, São Tomé e Príncipe regista a maior percentagem de cidadãos que acreditam que a corrupção aumentou no país (56 por cento) seguido de Moçambique (49 por cento) e Cabo Verde (39 por cento).
Por contraste, quase metade dos cidadãos do Burkina Faso (54 por cento) e da Gâmbia (46 por cento) disseram que a corrupção nos seus países recuou.
O barómetro conclui também que a corrupção está a atingir os mais vulneráveis, adiantando que os pobres (36 por cento) mais propensos ao pagamento de subornos do que os ricos (19 por cento), retirando-lhes dinheiro para necessidades básicas como alimentação ou saúde.
A polícia surge como a instituição mais corrupta (47 por cento) e com maiores taxas de suborno (28 por cento).
As empresas de fornecimento e eletricidade e água e os serviços que emitem documentos de identificação, como cartas de condução e passaportes, as escolas e os serviços de saúde registam também altas taxas de suborno, de acordo com o estudo.
Membros do governo (39 por cento) e do parlamento (36 por cento), gabinetes do presidente ou primeiro-ministro (34 por cento) e juízes e magistrados (34 por cento) são também vistos como afetados pelo fenómeno da corrupção, que segundo os inquiridos atinge também os governos locais, os chefes tradicionais, as organizações não governamentais e os líderes religiosos.
A maioria (53 por cento) dos inquiridos acredita que os cidadãos podem fazer a diferença no combate à corrupção, mas 67 por cento (2/3 dos inquiridos) receiam sofrer retaliações se denunciarem os casos de que têm conhecimento.
Na avaliação ao papel dos governos no combate à corrupção, 59 por cento defendem que os seus governos estão a fazer um mau trabalho contra 34 por cento que aprovam a atuação governamental.
O estudo sublinha ainda que os subornos estrangeiros e a lavagem de capitais desempenham um “papel maior” na promoção da corrupção em África, considerando que muitos países que exportam grande volumes de mercadorias e serviços estão a falhar na investigação e punição das empresas que pagam subornos no estrangeiro.
O documento apresenta uma amostra de países com empresas implicadas no pagamento de subornos em África, onde se incluem, entre outros, Portugal, Espanha, Brasil, China ou Estados Unidos.
O Barómetro Global sobre Corrupção África 2019 atualiza dos dados do último estudo sobre corrupção em África da organização Transparência Internacional, que datava de 2015.