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Um muro que divide poderes

Autor : Ana Regina Ramos

Sim, eu vou falar do Trump e sim, vou falar Do Muro. Mas desengane-se quem pensa que vou apontar o dedo ao ator principal dos memes ou piadas mais incríveis publicados nos últimos tempos, ou relembrar a Guerra Fria. Vamos a factos e algumas metáforas.

Na passada sexta-feira, dia 24 de fevereiro, vários jornalistas foram impedidos de assistir ao briefing diário do secretário da imprensa da Administração Trump, Sean Spicer. CNN, BBC, New York Times, LA Times, New York Daily News, Daily Mail, BuzzFeed, Politico e Washington Post são alguns dos nomes de meios de comunicação proibidos de ouvir as palavras do homem que controla quase 21% do produto interno bruto mundial.

Os repórteres da Associated Press e da revista Time recusaram-se, em solidariedade aos colegas, a acompanhar a conferência de imprensa e a Associação de Correspondentes da Casa Branca juntou-se também ao protesto.

Uma porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, já veio a público dizer que convidaram “a pool (grupo fixo de órgãos que costumam fazer a cobertura na Casa Branca e que incluem normalmente representantes de uma televisão, uma rádio, um jornal e de algumas agências noticiosas) para que toda a gente estivesse representada”. “Nós decidimos acrescentar mais algumas pessoas para além da pool. Nada mais do que isso”, afirmou.

Sabe-se também que, supostamente, o encontro seria menos formal, no gabinete de Spicer. Ou seja, talvez não houvesse dinheiro para comprar uma máquina para lhes oferecer um café, ou, então, tiveram medo que os jornalistas, com a boa fama de “cuscos” que têm, remexessem no gabinete e levantassem o pano de algum podre.

Uma imagem vale mais que mil palavras e se eu tivesse que desenhar uma que descrevesse isto seria metade a preto e branco e com o Trump de um lado a falar para meia dúzia de pessoas bem-vestidas e todos com sorrisos amarelos, separados por um “muro da vergonha”. Esse muro teria palavras pintadas como “Mentirosos!”, “Intrometidos!” e outros insultos dirigidos, é claro, aos profissionais da comunicação. Do outro lado desse muro, estavam os jornalistas, numa ansiedade tremenda, de gravador, câmara e bloco e caneta em punho a tentar trepar o muro e espreitar para conseguir saber o que se passa e como saírem dali.

A outra metade da imagem é o sonho e, ao mesmo tempo, a meta: um ambiente cheio de cor e vida, respirado pelo 4º Congresso dos Jornalistas Portugueses, onde os jornalistas escrevem histórias verdadeiras, imparciais e algumas polémicas, sobre o que se passa no mundo com o único objetivo de contribuir para o conhecimento e esclarecimento do público.

Ah! Mas esperem! Esse muro opaco e “vergonhoso” existe mesmo, não faz parte apenas da minha imaginação, infelizmente. E, por coincidência de nome, percebi que um dos jornais autorizado a participar na conferência de imprensa de sexta-feira foi o Wall (muro/parede) Street Journal, assim como a NBC, ABC, CBS, Fox News, Reuters e Bloomberg e organizações como o Breitbart News (site a que esteve ligado o principal estrategista de Trump, Steve Bannon), The Washington Times e a One America News Network. Isto há cada coisa!…

Como é óbvio, um lado empurra o outro. Se numa direção há barreiras no acesso à divulgação, na outra acabam por haver informações com vista ao lucro para garantir o sustento dos meios. Sem muro, os diferentes tipos deinformações cruzavam-se e os jornalistas faziam o seu papel de filtro da informação que realmente importa.

Como se não bastasse este muro que divide poderes – sim, porque os media são o Quarto Poder, quer se queira ou não – ainda vai existir, acredita Trump, um outro – físico – entre o México e os EUA, ou, aliás, apenas o que falta para completar a barreira que cobre já 33% da fronteira que lá existe desde a era Bush.

Pelos vistos, segundo o departamento de proteção de fronteiras norte-americano, procuram-se agora ideias “para o design e construção de vários protótipos de muros nas proximidades da fronteira dos Estados Unidos com o México” até 10 de março. Lanço eu agora a proposta de design do muro que aqui defini e previsões de outros locais por onde a ideia vai ser vendida.

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