Não estão atribuídos médicos de família para cerca de 1,5 milhões de portugueses, inscritos nos centros de saúde em 2010, divulga o relatório da atividade dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES) da Administração Central dos Serviços de Saúde (ACSS).
Em janeiro, Ana Jorge, na altura ministra da Saúde, aludia para meio milhão de portugueses sem médico de família. No entanto, “os dados referentes a 2010, excluindo os inscritos que optam por não ter médico de família, apontam para um valor nacional de 15% de inscritos sem médico de família, o que significa que cerca de 1,5 milhões de pessoas ainda não têm médico atribuído”, aponta o relatório elaborado pela Unidade Funcional para os Cuidados de Saúde Primários da ACSS.
Apesar de o valor nacional ser de 15%, “as assimetrias regionais são ainda bastante significativas”, revelou o mesmo relatóri, divulgado online.
Por exemplo, no ano passado, as zonas de Lisboa e Vale do Tejo, assim como do Algarve, só tinham 6,4 médicos por cada 10.000 residentes, sendo as únicas regiões com uma média menor do que a nacional (6,8 médicos por 10.000 habitantes).
Em relação ao ano de 2009, nos cuidados de saúde primários (CSP), as consultas médicas efetuadas aumentaram 2,7%, em 2010, divulgou o ‘Diário de Notícias’.
Com um aumento notável, as regiões de saúde do Algarve e do Alentejo registaram um crescimento no número de consultas de 3,9 e 6,9, respetivamente.
A região centro e o Alentejo são as zonas com maior número de consultas por pessoa. O facto de no Alentejo se efetuarem 35% mais consultas do que a média nacional (2,9 consultas por pessoa) poderá explicar-se com o elevado índice de envelhecimento (em 2009 o valor foi de 58,5 para um valor nacional de 49,7) e ainda o índice de independência total (em 2009 passou de 186,6 para 120,3).
Já na região do Algarve são realizadas 20% menos de consultas por pessoa do que a média nacional devido à forte carência de médicos de família.
Em todas as regiões, baixaram significativamente as consultas nos SAP (23% a nível nacional). O documento justifica este facto com a reorganização dos serviços de urgência, que conduziu ao fecho de vários SAP, nos últimos anos.
“Esta variação deve ser considerada como positiva no sentido em que esta atividade é transferida para os cuidados de saúde personalizados via Unidades de Saúde Familiar (USF) e Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP)”, explica.
Os autores do estudo defendem que a reforma dos CSP veio facilitar o acesso pela forma de organização de trabalho em equipas autónomas. As Unidades de Saúde Familiar servem cerca de 36% da população (304 USF existentes em julho de 2011).
“As restantes unidades de cuidados personalizados estão também a organizar-se, à semelhança das USF, de forma a dar resposta às necessidades da população. No entanto, nestas unidades verifica-se um número considerável dos utentes inscritos sem médico de família”, salientam.
Entre os anos de 2009 e 2010, as consultas não programadas diminuíram em relação ao total de consultas, no entanto os valores notados (60%) comprovam a importância desta atividade.