A Rússia desistiu do South Stream, o gasoduto que iria abastecer a Europa. Vladimir Putin explicou que a União Europeia pressionou a Bulgária a proibir a passagem dos tubos devido ao conflito na Ucrânia. Serão menos 400 milhões de euros por ano para os búlgaros, avisou o Presidente russo.
O South Stream, o gasoduto que traria o gás natural da Rússia para a Europa, não vai sair do papel. O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a suspensão do projeto devido às objeções levantadas pela Bulgária.
De acordo com Putin, o governo búlgaro opôs-se à passagem dos tubos pelo território por exigência da União Europeia (UE), que aproveitou a construção da infraestrutura para pressionar a Rússia, no âmbito das sanções económicas levantadas devido ao conflito na Ucrânia.
“Nas circunstâncias atuais não se pode avançar com as obras do South Stream. Se a Europa não quer realizá-lo, então não será realizado”, garantiu o chefe de Estado russo, que se encontra numa visita oficial à Turquia.
Vladimir Putin não se mostrou assustado com a alegada pressão da UE, lembrando que o gasoduto daria à Bulgária uma receita bruta anual a rondar os 400 milhões de euros por ano: “A Bulgária é um país soberano, mas para nós não faria sentido construir o gasoduto até à fronteira búlgara e deixá-lo ali”.
“Quem perdeu é a Europa e não a Rússia”, acrescentou Natália Ulchenko, economista do Instituto de Estudos Orientais, citada pela agência Rossiya Segodnya: “Como se sabe, a maior parte do gás que devia ser exportado para a Europa será vendida à China. Com Pequim foram celebrados acordos de larga escala”.
“A Rússia não vai perder o mercado em função dos preços atuais, mas a Europa está perdendo a segurança energética”, alertou a economista, salientou que a Eslovénia já manifestou igual apreensão: “Receio que o prejuízo seja muito maior, já que a Europa terá de construir uma nova infraestrutura para garantir a segurança energética”.
“É um fracasso”, acrescentou Rumen Ovcharov, antigo ministro da Energia da Bulgária: “O aniversário do South Stream será assinalado no dia da sua morte. A Bulgária tem avançado com argumentos de ser a vítima de manipulações russa, mas isso não é verdade, especulações análogas surgiram em 1998, em torno da construção do Blue Stream”.
“A Bulgária não acreditava que seria contornada, mas o gás passou a ser fornecido à Turquia, não tendo a Bulgária ganho nada com o trânsito. Não acho que a Rússia vá perder muita coisa com a suspensão das obras, mas Bulgária perderá”, recordou.
Para o ex-governante búlgaro, esta visita de Putin à Turquia é sinal de que a Rússia já está a garantir uma alternativa: “No início, convencemos os russos de que somos parceiros realmente seguros. A Rússia veio ao nosso encontro e anuiu em colocar a tubagem pelo fundo do mar, embora isso tivesse encarecido o projeto. Naquela altura era-lhe importante contar com apoio de um parceiro do sul da Europa, dado que a Turquia se posicionava como um ‘satélite’ dos EUA. Hoje, a Turquia tornou-se menos dependente da pressão de Washington e tem prioridades são diferentes”.
De acordo com a Reuters e a France Press, foi em junho que a Comissão Europeia (ainda liderada pelo português Durão Barroso) pediu à Bulgária que suspendesse a construção do gasoduto “até que esteja de acordo com o direito europeu”, nomeadamente quanto às regras sobre as licitações públicas.
O projeto South Stream, avaliado em 16 mil milhões de euros, nasceu em 2012 e é encabeçado pela Gazprom (empresa estatal russa). O projeto prevê um gasoduto com uma extensão de 2400 quilómetros.