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Ucrânia alerta para repercussões ambientais, geopolíticas e económicas do gasoduto russo Nord Stream-2

A Ucrânia alertou hoje para as consequências “ambientais irreversíveis” que terá o gasoduto Nord Stream-2 na zona do mar Báltico, mas também para as repercussões geopolíticas e económicas deste projeto liderado pela Rússia.

“Com o início da construção do gasoduto Nord Stream-2 e até à conclusão dos trabalhos de limpeza dos depósitos de armamento químico do fundo do mar Báltico preveem-se consequências ambientais irreversíveis, as quais tornarão impossível o uso da área marítima para serviços recreativos ou pesqueiros”, advertiu a Embaixada da Ucrânia em Portugal, num comunicado enviado às redações.

O alerta lançado pela representação diplomática ucraniana em Lisboa volta a expor as diversas preocupações de Kiev em relação a este gasoduto – já construído em mais de 80 por cento – que permitirá a Moscovo duplicar as entregas de gás natural russo na Europa, em especial na Alemanha, contornando o território ucraniano.

Em outubro passado, a Dinamarca autorizou a construção e a passagem pelo seu território de um troço do gasoduto, levantando assim o último obstáculo para a finalização do projeto.

A autorização da Agência Dinamarquesa de Energia permite a construção na plataforma continental do país a sudeste de Bornholm, no mar Báltico.

“A área do mar Báltico pode ser extensivamente danificada pela construção do Nord Stream-2”, frisou a embaixada ucraniana, apontando que a zona de Bornholm foi no passado um local de “despejo de armamento químico”.

Segundo Kiev, entre 1947 e 1948, “um arsenal de armas químicas da Segunda Guerra Mundial foi afundado a leste de Bornholm pela [então] União Soviética, contendo substâncias tóxicas”.

A representação ucraniana também referiu que existem “evidências documentadas” de que, em 1945, 69.000 toneladas de cartuchos de artilharia contendo agentes químicos e fosgénio foram igualmente afundadas naquela área. Também é referido outro despejo em 1959.

Poucos dias após a autorização dinamarquesa, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, condenava a decisão de Copenhaga, afirmando então que fortalecia a Rússia e enfraquecia a Europa, afirmando na mesma ocasião: “Não é apenas uma questão de segurança energética, é uma questão geopolítica”.

A nota divulgada hoje pela embaixada ucraniana reforça esta posição.

“O Nord Stream-2 não é um gasoduto comum, uma vez que dá poder a [Presidente russo Vladimir] Putin para afundar os antigos países-satélite e ex-repúblicas da União Soviética que ficam na Europa, bem como para dividir a União Europeia (UE) e causar preocupações dentro da Aliança Transatlântica. Assim, este gasoduto representa a maior ameaça à Europa”, salienta o comunicado.

A Embaixada da Ucrânia recorda que, atualmente, a Rússia fornece um terço do gás natural à Europa através de três gasodutos: um via Bielorrússia e Polónia, outro via Ucrânia e Eslováquia, e o terceiro é o Nord Stream-1 (operacional desde 2011 e que liga a Rússia à Alemanha).

“O Nord Stream-2 substituirá os dois primeiros, criando uma dependência de infraestrutura perigosa e vulnerável”, alerta a representação diplomática, mencionando ainda que a empresa estatal russa Gazprom (a maior acionista do projeto) já anunciou que não cumprirá a diretiva europeia adotada em abril passado que forçaria a empresa “alienar o gasoduto a operadoras independentes” e garantir “transparência e preços não discriminatórios”.

Embora o gasoduto seja propriedade do fornecedor russo de gás Gazprom, metade do investimento canalizado para o projeto, cerca de oito mil milhões de euros, é assegurado por cinco empresas europeias das áreas da energia e dos produtos químicos, como é o caso da alemã BASF, da anglo-holandesa Shell e da francesa ENGIE.

O gasoduto Nord Stream-2 começa na Rússia e passa por áreas marítimas da Finlândia, Suécia, Dinamarca e da Alemanha, antes de alcançar a costa alemã.

Terá capacidade para transportar 55 mil milhões de metros cúbicos de gás natural por ano.

Antes da Dinamarca, Rússia, Finlândia, Suécia e Alemanha já tinham emitido as respetivas autorizações.

O projeto contorna o território ucraniano, o que significa que Kiev ficará privada de uma fonte financeira substancial e que perderá poder de influência face a Moscovo.

As relações entre Moscovo e Kiev estão tensas desde 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia e as denúncias ocidentais do apoio russo aos separatistas no leste da Ucrânia.

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