Economia

Turquia aproveita guerra da UE contra a Rússia de Putin

gasoduto A Rússia fartou-se das objeções da União Europeia e cancelou o gasoduto South Stream, que ia abastecer vários países europeus. Quem saiu a ganhar foi a Turquia, que volta a ser alternativa para as rotas do gás natural e quer usar esse trunfo para aderir à UE.

A política energética está a dividir a União Europeia (UE), a virar a Rússia para oriente e a fazer renascer um ator político inesperado: a Turquia.

Em causa está o abastecimento de gás natural a partir da Rússia, cujo gasoduto principal rumo à UE atravessa a Ucrânia, um país onde grande parte da população é pró-russa e reivindica a secessão.

A Alemanha, o motor da economia europeia, contornou o problema ao assinar um protocolo bilateral com a Rússia para a construção de um gasoduto que passe a norte da Ucrânia. A alternativa é que deu origem ao conflito atual.

O gasoduto South Stream foi projetado para evitar a Ucrânia e abastecer os países da Europa do sul, atravessando o mar Negro rumo aos Balcãs e também à Itália, Hungria e Áustria.

Só que a Comissão Europeia não autorizou a Gazprom, a empresa estatal russa que lidera o projeto, a construir o gasoduto enquanto não respondesse a critérios definidos pelas regras europeias.

Ontem, durante a visita oficial à Turquia, o Presidente da Rússia anunciou ter-se cansado da pressão europeia e revelou que desistiu do South Stream e vai vender o gás natural à China e a outros países da Ásia.

“Nas circunstâncias atuais não se pode avançar com as obras do South Stream. Se a Europa não quer realizá-lo, então não será realizado”, afirmou Vladimir Putin, salientando que só a Bulgária (membro da UE) perde receita bruta anual a rondar os 400 milhões de euros por ano: “A Bulgária é um país soberano, mas para nós não faria sentido construir o gasoduto até à fronteira búlgara e deixá-lo ali”.

O anúncio de Putin chegou ao destinatário. Ainda ontem, o novo comissário europeu da Energia, Maros Sevkovic, assumiu a preocupação com a “segurança” do fornecimento de gás natural: “A evolução constante da paisagem energética é uma razão para a UE construir uma União da Energia, cuja prioridade é assegurar a segurança dos abastecimentos”.

Porém, essa “União da Energia” não será possível enquanto a UE continuar a não aceitar a Turquia como membro.

Para já, o regime de Ancara é o grande vencedor deste conflito energético entre os dois gigantes continentais: beneficiou de um desconto no gás russo e em breve terá um segundo gasoduto a partir da Rússia.

Mas o trunfo mais importante é ao nível da adesão à UE. Devido à localização estratégica, o território turco é vital para a passagem de qualquer gasoduto que traga gás natural da Ásia Central, do Azerbaijão, do Turquemenistão e, em especial, do Iraque e/ou do Irão.

Um eventual gasoduto que chegue à UE através da Turquia liberta os europeus da excessiva dependência das jazidas russas. Uma dependência que não afeta a Alemanha, que através do Nord Stream é abastecida diretamente pela Rússia e foi um dos principais atores, em 2009, do fim do Nabucco, o tão ansiado gasoduto que atravessaria a Turquia.

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