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Trustify – O Futuro chegou aos Investigadores Privados

Nenhum assunto é tão actual, e preocupante para todas as partes envolvidas, quanto a privacidade. Falemos nas redes sociais, em drones ou em inovadoras apps apenas uma coisa interessa: privacidade. Estará a minha identidade segura? Estarão os meus dados seguros?

Estarão os meus documentos privados seguros? Tudo isso, e muito mais, apoquenta-nos diariamente (e não é caso para menos). Ora esta semana venho falar-vos de uma nova aplicação que promete dar muito que falar e gerar muita polémica por onde quer que passe! Dá pelo nome de Trustify e já é chamada de “o Uber da Investigação Privada”. É caso para dizer que o futuro chegou a um dos negócios mais antigos do mundo.

A verdade é que este é um negócio sem grande expressão em Portugal. Ele existe, claro, mas não tem o mesmo fulgor de tantos outros países. E à cabeça de todos esses países estão, muito provavelmente, os Estados Unidos da América. Aliás, todos nós crescemos com o negócio da investigação privada bem presente em inúmeros filmes e séries norte-americanas (os exemplos são tantos que se os fosse dar ocuparia certamente a crónica toda). Contudo esta área não tem assistido a praticamente nenhuma evolução nas últimas décadas. Até agora.

Sim, porque nada será igual depois da chegada do Trustify.

Era uma questão de tempo até o futuro chegar a este negócio. Sim, porque não nos podemos esquecer que vivemos numa era em que a maior parte das interacções, que anteriormente fazíamos cara a cara, se modificaram graças à tecnologia. Se antes queríamos ir às compras o que fazíamos? Íamos a uma superfície comercial. E se queríamos comprar um livro ou um álbum? Íamos a uma loja específica. E se quiséssemos contratar um investigador privado?

Procurávamos por um nas redondezas da nossa habitação. Já hoje em dia se queremos ir às compras podemos fazer tudo pela internet e esperar que nos seja entregue em casa; se queremos comprar um álbum ou um livro podemos fazê-lo digitalmente e, a partir de agora, podemos contratar um investigador privado através de uma aplicação móvel.

O Trustify explica-se em poucas palavras: é uma aplicação móvel que podemos descarregar para o smartphone/tablet e através do qual temos acesso a investigadores privados prontos investigar praticamente qualquer coisa, ou pessoa, para nós. “E esse serviço é pago?”. Pois obviamente que é caro leitor! Não se esqueça que estamos a falar de investigadores privados profissionais. Cada utilizador terá de pagar 65 dólares por hora, o que é muito abaixo do preço normal (sendo que metade desse valor vai para o próprio investigador). “Posso usar a aplicação em Portugal?”. Infelizmente (ou felizmente, não sei) não. Para já a aplicação apenas existe em Washington DC, nos Estados Unidos da América, contudo a intenção da empresa é crescer e tornar-se global. “Mas quando é que surgiu essa empresa? Ainda não tinha ouvido falar desta aplicação…”. É normal que ainda não tivesse ouvido falar dela, afinal de contas tem apenas cerca de dois meses de existência (sendo que bastou um mês para gerar muitas perguntas à sua volta e gerasse alguma polémica).

O homem por detrás do Trustify é Danny Boice. Foi dele a ideia para revolucionar este negócio há muito estagnado. E tudo começou quando Danny se divorciou. A sua ex-mulher acabou por ficar com a guarda da filha e ele suspeitou que ela poderia estar a fazer algo ilegal. Foi então que contratou um investigador privado. Mas, e há sempre um mas, como inexperiente que era na área acabou por ser enganado. O investigador cobrou-lhe largas dezenas de dólares não conseguindo descobrir absolutamente nada. Ou seja? Pagou muito dinheiro e ficou exactamente na mesma. Danny tinha acabado de descobrir da pior forma possível que existe uma incrível discrepância entre a quantidade e a qualidade do serviço dos investigadores privados. Sim, porque nem todos os investigadores têm qualidade e apresentam resultados fiáveis!

Foi a partir deste acontecimento que surgiu a ideia para a referida aplicação. Mas atenção, o Trustify não conduz, ele mesmo, qualquer investigação! A aplicação limita-se a fazer a ponte entre os consumidores e os investigadores profissionais, cobrando um valor estipulado e pagando metade desse valor aos investigadores.

Agora, tudo isto levanta muitas questões. Primeiro que tudo: os clientes nunca chegam a conhecer o investigador. Será que podemos confiar em alguém que nunca chegamos verdadeiramente a conhecer? Segundo: Nós não “escolhemos” o investigador em causa. É a aplicação que escolhe quem fica com cada caso, gerindo as agendas consoante for necessário. Ou seja, nada nos garante que temos a trabalhar para nós o investigador mais competente para o nosso caso.

Terceiro: ao que parece não é feita nenhuma triagem dos clientes. E aqui reside, quanto a mim, o maior problema desta aplicação. A aplicação e os investigadores pura e simplesmente não sabem quem os contrata. Logo abrem-se aqui portas muito perigosas para todo o tipo de pessoas. Criminosos em busca de alvos para futuros crimes? Podem recorrer à app. Ex-maridos e ex-mulheres sedentos (as) de vingança? Também têm a porta aberta. Namorados ou namoradas a quererem confirmar tudo aquilo que lhes contámos acerca de nós, da nossa família, e do nosso passado? Também eles têm livre-trânsito. Pedófilos? Também. Terroristas? Também. Enfim, vocês já perceberam qual é o problema. A privacidade que é garantida aos clientes da app vai, certamente, violar a privacidade de outros largos milhões de pessoas. Para satisfazer os seus clientes aposto que a vida de muito boa gente será estragada.

Quarto: os especialistas afirmam que o valor que a aplicação paga aos investigadores é muito abaixo do valor de mercado. E isto pode ser outro problema. Senão pensem comigo: um investigador privado pode ganhar (por exemplo) 100 dólares por hora se trabalhar por sua conta, mas apenas 30 dólares por hora se trabalhar para o Trustify. O que é que isto significa? Que os melhores investigadores do mercado, aqueles que realmente resolvem casos, vão sempre preferir trabalhar para si do que para uma aplicação móvel. Claro que haverá sempre alguém disposto a correr o risco, não terão é a qualidade que esperamos encontrar quando recorremos a este tipo de serviços.

Quinto: este método vai certamente levar muitos mais pessoas a recorrer a este tipo de serviços. Reconheçamos: já todos nós tivemos vontade de recorrer a um profissional destes. Os motivos pelos quais não o fizemos foram, quase de certeza, o dinheiro que teríamos que gastar, o receio de ser “apanhado” a recorrer a um investigador privado e o medo do que podíamos vir a descobrir. Ora dois terços desses motivos ficam facilitados com o Trustify. Há milhões de jovens espalhados por esse mundo fora com acesso diário à internet, logo parece-me óbvio que muitos deles irão (com mais ou menos frequência) ser clientes de Danny Boice.

Sexto: será boa ideia facilitar tanto o acesso a estes serviços? Até que ponto é que a nossa privacidade não será colocada em causa? É que não se esqueçam que bastam alguns minutos na internet (e em particular nas redes sociais) para muita coisa ser descoberta sobre nós. Claro que parte da culpa também é nossa (afinal de contas revelamos demasiado sobre nós e a nossa vida de forma completamente voluntária), mas os investigadores privados não podem ser isentos de responsabilidades. Porque aquilo que partilhamos só está disponível para os nossos familiares e amigos e não para qualquer um.

Como o caro leitor já percebeu esta aplicação vai dar muito que falar. Para já está circunscrita a uma zona muito específica dos Estados Unidos da América, contudo pode muito bem crescer e espalhar-se por inúmeros países pelo mundo fora. Em dois meses não houve um único caso polémico, mas cheira-me que não vai tardar muito mais.

Quanto a Portugal, muito sinceramente, tenho dúvidas que este serviço tenha sucesso. E atenção, as minhas dúvidas não são para com os consumidores, mas sim para com os investigadores. Assumo que desconheço a verdadeira dimensão desta área de negócio em Portugal, contudo tenho sérias dúvidas que existam profissionais suficientes (e suficientemente competentes) para tantos clientes. Sim, porque conhecendo os portugueses como conheço isto seria um sucesso mais do que certo!

O nosso povo, para o bem ou para o mal, é curioso e cusco por natureza, logo o Trustify tem por cá muitos potenciais consumidores dos seus serviços.

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