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Trabalho não pago: mulheres de Portugal não recebem por quase 250 minutos por dia

mae filhoO trabalho não pago é, segundo a OCDE, uma das maiores desigualdades de género em Portugal. As mulheres trabalham quase 250 minutos por dia em funções não pagas, geralmente de ‘lide doméstica’, tempo só superado em Turquia, México e Índia.

O tempo a realizar tarefas não remuneradas, como as ‘lides domésticas’ ou tomar conta de pessoas dependentes, foi um dos indicadores da desigualdade de géneros analisado pela OCDE, com dados referentes a 26 países. No relatório, hoje divulgado, a entidade revela que as mulheres portuguesas são das que utilizam mais tempo, com quase 250 minutos por dia de trabalho não pago: este valor só é ultrapassado pelos tempos de turcas, mexicanas e indianas, mas está bem acima da média de 150 minutos.

As principais conclusões apontam para que as mulheres desempenhem mais esse tipo de tarefas não remuneradas do que os homens, que quanto mais caros são os cuidados infantis, mais tempo é necessário e que, nos países onde o sistema laboral de ‘part-time’ é pouco comum (como Portugal e Grécia), “a presença de uma criança frequentemente leva uma mãe a abandonar o mercado de trabalho”, como se lê no relatório.

Os técnicos concluíram que “cuidar de uma criança parece afetar negativamente a participação das mulheres no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, o número de horas que dedicam ao emprego, uma vez que aumenta o tempo dedicado a trabalho não pago. No caso dos homens, a chegada de uma criança faz aumentar ligeiramente o tempo dedicado ao trabalho pago e não pago”.

Três justificações

“As mulheres assumem uma desproporcionada quantidade de trabalho não pago, independentemente do tipo de família. Em casais em que os dois elementos têm emprego, as mulheres passam mais de duas horas por dia a fazer trabalho que não é pago”, consta ainda no relatório.

A falta de apoios à maternidade é apontada, pela OCDE, como um dos principais motivos para a desigualdade de género analisada. Uma das principais conclusões é que “as mães trabalhadoras dedicam cerca de 50 por cento mais tempo aos cuidados com os filhos do que pais que não têm emprego”.

Outra justificação é a tradição social, pois há países, como Portugal, onde o ‘cuidar dos filhos’ é um ‘trabalho’ associado à figura maternal e não à paternal. No inquérito com a pergunta “as mães devem estar preparadas para reduzir o trabalho em nome da família”, quase 60 por cento das respostas portuguesas (mães e pais com filhos de idade inferior a 15 anos) indicavam que sim, contra os menos de 20 por cento respondidos em países nórdicos, como Dinamarca e Suécia.

A OCDE junta um terceiro motivo, a desigualdade salarial: “os homens ganham, em média, mais 16 por cento do que as mulheres em empregos idênticos”. No caso dos casais com um ou mais filhos, essa diferença pode atingir os 22 por cento.

Quanto às respostas, a organização sugere “melhorar a política fiscal”, pois 52 por cento do segundo salário de uma família é apenas para pagar impostos: “se os cuidados com uma criança absorvem um salário, há pouca ou nenhuma vantagem em ter os dois pais a trabalhar, pelo menos a full-time”.

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