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Tiago Monteiro recorda o longo processo de recuperação antes da vitória em Vila Real

Nada acontece por acaso, e apesar da vitória de Tiago Monteiro na terceira corrida do WTCR em Vila Real parecer uma espécie de ‘milagre’, tal só se tornou possível após um longo processo de recuperação.

Um dos aspetos menos visíveis da recuperação do piloto português da Honda do grande acidente sofrido nos testes em Barcelona em 2017 foi o facto de ter recorrido aos melhores especialistas, nomeadamente nos Estados Unidos.

Fotos: DPPI

“Depois pude sair de casa e começar o processo de tratamento. Usei uma câmara hiper-bárica, onde passei 60 horas, duas horas por dia a respirar oxigénio puro para regenerar as células. Fiz terapia de óxigénio, terapia de ozono – onde me retiravam sangue para ser misturado com ozono para me ser devolvido – fiz muita osteopatia, quiropática, fisioterapia, pois inicialmente mal me mexia”, diz Tiago Monteiro.

O piloto do Porto refere que os progressos começaram a notar-se depois: “Após algum tempo pude mexer-me um pouco mais. Comecei o meu treino na fisioterapia na água, numa piscina com instrumentos especiais e com ferramentas de ginásio”.

“Apanhei algumas injeções de botox nos meus olhos, por causa do meu sexto nervo. O nervo exterior é aquele que faz abrir os olhos e foi esticado no impacto do acidente. Deram-me também injeções na parte interna do olho, onde somos anestesiados nessa parte. O que nos relaxa e nos ajuda a recuperar. Fiz isso quatro vezes. Não foi uma injeção agradável mas tinha de ser dada”, recorda Tiago.

O piloto portuense atribui grande parte da recuperação à sua deslocação aos Estados Unidos para ser tratado por clínicos peritos em traumatismos como o que sofreu: “Quando fui a um especialista a San Diego (Califórnia) passei oito horas por dia a tomar vitaminas, amino ácidos e coisas que usam para grandes traumas e ferimentos na cabeça.

Foi um pequeno milagre que me fez recuperar a visão. O traumatismo que tive era muito maior do que incialmente pensava. Por isso toda a gente recomenda um mínio de 11 a 12 meses sem correr riscos. Por isso não pude correr (durante muito tempo)”.

Depois, a 27 de outubro de 2018, extamente 415 dias depois do acidente, Tiago Monteiro voltou ao volante do Honda Civic TCR na prova do WTCR em Suzuka, onde por pouco não terminava nos pontos. No entanto era um regresso episódico mais explicado pelo facto de se tratar de um traçado muito seguro e ser a ‘casa’ da marca japonesa. O regresso a ‘tempo inteiro’ só aconteceria esta temporada, quer nos testes de pré-época, quer depois em corrida na primeira prova em Marrocos, onde conseguiu chegar à disputa da ‘pole position’, tal como sucedeu na segunda qualificação de Vila Real.

Não tem sido uma época fácil para o piloto português, uma vez que os Civic Type TRC da KCMG não têm revelado a mesma consistência competitiva dos da Munnich Motorsport, e isso foi bem visível em provas como as da Hungria ou da Eslováquia. “Lutávamos como loucos mas nada, e ficávamos na parte de trás da grelha, o que foi frustrante. Se não temos um carro perfeito ficámos lá para trás. Mas é difícil de aceitar. Mesmo quando estamos em forma perfeita nada surgia”.

“E é o primeiro ano que estou a competir no WTCR (com esta denominação). A maioria dos meus adversários já correram na época anterior. Talvez estivéssemos um pouco iludidos pela performance em Marraquexe. Mas descemos à terra nas provas seguintes. Contudo, mesmo quando tivemos temos tão difíceis continuamos a lutar. Tentamos manter a moral porque sabíamos que isto (a vitória em Vila Real) iria acontecer, e o ‘timming’ foi simplesmente perfeito”, remata Tiago Monteiro.

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