Uma viagem às origens do tetra do Benfica permite-nos contar uma história talvez esquecida e que tem influência decisiva nesta conquista. Ocorre no Estádio da Luz e tem como protagonista um jogador improvável: Markovic.
A época 2013/2014 acabara de começar e o Benfica de Jorge Jesus – Rui Vitória treinava em Guimarães – ameaçava prolongar uma seca de títulos, com o FC Porto, tricampeão, à procura de levar um novo tetra para a Invicta.
Por curiosidade, estávamos perante o início de um tetra, mas o primeiro da longa história do Benfica. Era um cenário inimaginável, porque a história o contrariava e porque o domínio portista era beliscado por ténues e raras vitórias encarnadas.
Desde 2002/03, um bicampeonato, um tetracampeonato e um tricampeonato eram o sinal evidente do poder azul e branco. O Benfica apresentava dois títulos: o célebre fim de jejum que Giovanni Trapattoni trouxe de Itália e a estreia de sonho de Jorge Jesus, campeão na época em que chega à Luz. Dois títulos salpicavam o domínio de um gigante dragão.
O tricampeonato portista levou depressão a Lisboa. Esgotara-se a paciência dos adeptos, que pediam uma chicotada psicológica. Nos corredores da direção do Benfica, Luís Filipe Vieira tinha tomado a decisão de renovar com o técnico, sozinho, contra os seus pares.
O campeonato começa mal, com uma derrota na Madeira, por 2-1. Rodrigo marca o golo encarnado, que não impediu a derrota, mas que fica na história como o primeiro golo deste tetra.
Acentua-se a contestação e Jesus vê FC Porto e Sporting fugirem na classificação, logo na ronda inicial, com vitórias folgadas.
A segunda jornada prometia acalmar ânimos, com uma receção ao Gil Vicente. Só que Diogo Viana deixa a Luz em choque, com um golo aos 69 minutos.
O Benfica de Maxi, de Luisão e Garay, de Matic e Enzo Pérez, de Lima, de Gaitán, Salvio, Lima, Cardozo e Rodrigo ameaçava permanecer na penumbra.
O minuto 90 chega e o Gil mantém-se em vantagem. Jesus lançara, pouco tempo antes, um jovem prodígio. Markovic. Em período de compensação, o sérvio empata e, um minuto depois, o Benfica opera uma reviravolta milagrosa.
Saídos das trevas, os encarnados tinham pela frente uma deslocação a Alvalade e é de novo Markovic a dar o mote, não para a reviravolta, mas quase. É o sérvio que aponta o golo do empate, já depois de Montero ter deixado os leões em vantagem. E o ponto em Alvalade tem um sabor doce.
Markovic conquista os adeptos encarnados. E ganha um lugar no onze, que nem sempre foi seu, porque as opções de Jorge Jesus para o ataque sobravam. Além de Rodrigo e Lima, havia ainda Cardozo. E nas alas, Gaitán e Salvio eram a primeira escolha.
Depois do pesadelo, o Benfica prossegue uma caminhada até ao topo, conquistando o primeiro título dos quatro que tornam este ciclo histórico.
Foi assim que tudo começou, com um herói improvável: Markovic, esse pequeno génio transformado em dispensado, no Sporting, há poucos meses.
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