Ciência

Testado com sucesso o primeiro medicamento oncológico português

O primeiro medicamento oncológico português para o tratamento de cancros da cabeça e pescoço apresentou resultados animadores no ensaio clínico.

Este é um passo significativo no tratamento dos cancros da cabeça e do pescoço, abrindo a possibilidade de tratamento para outros tumores, segundo explicou Lúcio Lara Santos, do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO) e responsável pelo ensaio clínico do primeiro medicamento oncológico português, em declarações à agência Lusa.

Decorreu no Porto a primeira fase do ensaio, numa parceria do IPO com o Hospital da CUF, através de um grupo de doentes voluntários. O objetivo era avaliar a tolerância e o efeito antitumoral da Redaporfin, um medicamento fotossensibilizador criado em Portugal e que já havia mostrado uma eficácia em outros ensaios em animais.

 “Verificámos que o tratamento com este medicamento de tumores malignos da cabeça e pescoço (espinocelulares) revelou elevada segurança, uma vez que os efeitos colaterais e adversos foram raros, não foram severos e revelaram-se de fácil controlo”, explicou Lúcio Lara Santos.

Sérgio Simões, presidente da Luzitin, explicou que os ensaios clínicos começaram há dois anos e meio em doentes que já “não existiam soluções terapêuticas” e que “o ensaio foi realizado num grupo restrito de doentes, nos quais se registaram resultados muitíssimos interessantes e que provam que o medicamento é seguro e não desencadeia efeitos secundários severos”, segundo declarações prestadas à agência Lusa.

O mesmo salienta que neste ensaio clínico foi possível aumentar a qualidade vida de doentes que estavam em cuidados paliativos, estando impossibilitados de comer e falar, voltaram a conseguir comer e falar após o tratamento com o medicamento.

O presidente da Luzitin afirmou que a Redaporfin poderá ser utilizado como tratamento do cancro das vias biliares, que ainda não tem terapêutica. Este fármaco irá ser candidato à Agência Europeia do Medicamento com o estatuto de “medicamento órfão”.

“Chama-se medicamento órfão porque vai dar resposta a uma necessidade que não está colmatada. É uma mais-valia e vamos investir nesta área e utilizar as ‘vias-verdes’ para as doenças raras para dar um salto importante e fazer o medicamento chegar o mais rapidamente ao mercado”, afirmou.

Para além disto, Lúcio Lara Santos refere que “o efeito antitumoral observado foi muito rápido, destruiu a totalidade do tumor tratado e que este efeito parece ser sustentado ao longo do tempo”, pelo que “a sua associação a outros tipos de tratamentos sistémicos parecer ser também promissor”.

Segundo o especialista, os resultados obtidos comprovam que existem razões científicas para que a esta opção terapêutica seja integrada no protocolo de tratamento destes tumores. Lúcio Lara Santos também apontou que será realizado um novo ensaio clínico com um número mais alargado de doentes, pelo que “permitirá definitivamente demonstrar o valor e os benefícios da terapia fotodinâmica com Redaporfin em oncologia”.

 

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