Cultura

“Terei talvez morrido; nunca o saberei”, antecipou Manuel António Pina

manuel antonio pinaManuel António Pina, escritor e jornalista, faleceu esta tarde no Porto, aos 68 anos. O vencedor do Prémio Camões 2011 despediu-se com “a dor de não ter escrito / o teu nome e de não ter sabido / as perguntas e as respostas”.

Manuel António Pina, homem das artes e das letras, faleceu esta tarde no Hospital de Santo António, no Porto, onde se encontrava internado. Apesar de licenciado em Direito, escreveu vários livros e trabalhou, durante três décadas, no Jornal de Notícias, ficando depois a colaborar com o diário enquanto cronista.

No ano passado, venceu o Prémio Camões, o mais prestigiado da literatura em língua portuguesa. Natural do Sabugal, nascido em novembro de 1943, editou o primeiro livro, de poesia, em 1974: “Ainda não é o fim nem o princípio do Mundo, calma é apenas um pouco tarde”. Escreveu também “O país das pessoas de pernas para o ar”, em 1973, entre vários contos, peças de teatro e obras diversas.

Os trabalhos literários de Manuel António Pina foram traduzidos em Alemanha, Bulgária, Croácia, Dinamarca, Espanha (em espanhol, galego e catalão), EUA, França (francês e corso), Países Baixos e Rússia.

Entre outras distinções, no domínio do jornalismo e da crónica foi galardoado com o Prémio Nacional de Crónica Press Club do Clube de Jornalistas (1993) e o Prémio de Crónica da Casa da Imprensa (2004).

No “Último Poema”, Manuel António Pina como que admitia o momento de hoje: “terei talvez morrido; nunca o saberei”.

A dor acompanhar-me-á,
a dor de não ter escrito
o teu nome e de não ter sabido
as perguntas e as respostas; nos teus braços quem me receberá?

E fará tanto frio
que a eternidade
se consumará sem mim no quarto agora vazio
de exterioridade e de contemporaneidade.

Só terei as minhas palavras,
mas também elas são mortais
mesmo as mais banais e mais
próprias para falar das coisas acabadas.

Terei talvez morrido; nunca o saberei.
Nem não o saberei tão perto estarei,
o rosto reclinado no seu peito,
a minha vida um sonho teu, desfeito.

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