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Terceira força política moçambicana defende atenção à desmobilização dos guerrilheiros da Renamo

O líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, defendeu ser decisivo “acarinhar a expetativa” da desmobilização dos guerrilheiros da Renamo, no atual quadro precário da paz, para quebrar ciclos de violência pós-eleitoral e insurgências.

Em declarações à Lusa, Daviz Simango, sugeriu que a contestação de uma ala da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana, maior partido da oposição) à liderança do partido e do processo de Desmobilização, Desarmamento e Reintegração (DDR) social, iniciado esta semana, resulta da falta de transparência.

O líder da terceira força política moçambicana chamou a atenção para a necessidade de se promover a inclusão, para não se “abrir uma porta para a insurgência no futuro” e prejudicar o acordo de cessação de hostilidades militares.

“Não basta a gente assinar por assinar, para transportarmos a imagem de que em Moçambique há ciclos eleitorais em paz”, disse Daviz Simango, em alusão ao acordo de cessação das hostilidades, para o fim formal dos confrontos entre as forças governamentais e o braço armado da Renamo, assinado a 01 de agosto na Gorongosa, entre o Presidente moçambicano e o líder da Renamo.

“É preciso falar com as pessoas, aproximá-las, ouvi-las e resolver os problemas, e é preciso compreender qual é a expectativa (…) porque a expectativa pressupõe que as pessoas acreditavam no seu envolvimento militar, e acreditavam que depois teriam alguma coisa” disse, em relação à cisão na ala militar da Renamo.

Simango manifestou preocupação com a contestação inédita dos guerrilheiros, insistindo para a necessidade de inclusão e integração e de gestão das expetactivas do grupo para a vida futura, após a desmobilização.

Em causa estão as contestações de um grupo liderado pelo major-general da Renamo Mariano Nhungue e que se autodenomina Junta Militar da Renamo. O grupo exige a renúncia do líder do partido, Ossufo Momade, acusando-o de estar a “raptar e isolar” oficiais da Renamo que estiveram sempre ao lado do antigo presidente do partido, Afonso Dhlakama, que morreu a 03 de maio do ano passado.

“Nós temos consciência de que parte das pessoas, que eventualmente não estejam integradas, são pessoas que cumpriram a sua missão no processo de criação e no desenvolvimento da própria democracia. Entretanto são pessoas úteis e são pessoas importantes na nossa sociedade, são nossos irmãos, são pessoas amáveis”, precisou Daviz Simango, que defendeu a publicação da lista dos guerrilheiros a integrar para a transparência do processo de DDR.

“As pessoas querem a paz, todos eles querem integração, único problema aqui é a comunicação, é o problema de ouvir, e assegurar as motivações”, sublinhou, sustentando que “o moçambicano não tem interesse nenhum em, de ciclo eleitoral em ciclo eleitoral, estar a gastar os pacatos recursos financeiros” para gestão de conflitos provocados por intolerâncias políticas.

A autoproclamada Junta Militar da Renamo ameaçou quarta-feira com ações militares se o Governo moçambicano insistir em negociar com o presidente do partido, considerando que o processo do diálogo violar o espírito dos acordos de paz celebrados pelo líder histórico do partido, Afonso Dhlakama.

Os negociadores “estão a dizer [aos militares da Renamo]: vão ao acantonamento e vão receber dinheiro de três meses e um cabrito macho e fêmea. Isso é abuso, é marginalizar-nos depois de uma vida nas matas”, considerou Mariano Nhungue, o major-general da Renamo que se apresenta como líder da junta militar.

Na quinta-feira o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Ossufo Momade, assinaram o acordo de cessação das hostilidades, para o fim formal dos confrontos entre as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição.

O processo de paz para Moçambique prevê ainda um acordo de paz mais amplo, que deverá ser assinado na próxima semana, desta feita em Maputo, e que prevê a integração nas forças de segurança do contingente armado da Renamo.

O acordo de cessação de hostilidades foi assinado na quinta-feira, no meio de contestação da Junta Militar da Renamo à liderança do partido e ao rumo das negociações de paz, e um dia após um ataque a um camião de carga e um autocarro de passageiros, que resultou em um morto.

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