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Surge a primeira queixa contra Durão Barroso por lóbi

A Aliança para a Transparência do Lóbi e a Regulação Ética (ALTER-EU) formalizou uma queixa contra Durão Barroso, acusando o banqueiro de Goldman Sachs de exercer pressão junto da Comissão Europeia (CE).

Demorou ano e meio. Nomeado presidente não-executivo do Goldman Sachs International, um dos bancos implicados na crise financeira de 2008 (cujos efeitos ainda persistem), o ex-presidente da CE é acusado de exercer pressão junto deste órgão em nome dos interesses do banco.

Em causa está uma reunião de Durão Barroso com Jyrki Katainen, o finlandês que é vice-presidente da CE, da qual não foi publicitado qualquer registo.

“Não tenho o hábito de tirar notas nas reuniões e também não tirei nesta, por isso é que não existem documentos deste encontro”, justificou-se o comissário europeu do Emprego, Crescimento, Investimento e Competitividade.

Katainen esclareceu que nesse encontro, realizado num hotel em Bruxelas (Bélgica), conversou com Durão Barroso sobre matérias de “comércio internacional e política de defesa”.

Para a ALTER-EU, não restam dúvidas: este encontro constituiu lóbi, algo que Durão Barroso tinha prometido não fazer.

“Tudo indica que o antigo presidente Barroso está ativamente a fazer lóbi junto da Comissão Europeia em nome do banco de investimento Goldman Sachs. Mas a autorização que recebeu do Comité de Ética ad-hoc teve por base uma promessa de não fazer lóbi”, frisou este associação europeia de agências independentes pela transparência.

Numa carta enviada a Alexander Italianer, secretário-geral da CE, a ALTER-EU exige que o estatuto de lobista do ex-presidente da CE (entre 2004 e 2014) seja revisto com urgência.

“Urge uma investigação mais aprofundada para averiguar se o antigo presidente terá induzido em erro o atual presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker”, refere o texto da missiva, acusando mesmo Durão Barroso de quebrar o dever de discrição e integridade.

Mas Barroso não é o único visado: também há dedos apontados ao antigo primeiro-ministro da Finlândia.

“Entendemos que o vice-presidente Katainen quebrou as instruções do presidente Juncker relativas ao tratamento do antigo presidente Barroso e não cumpriu as melhores práticas administrativas”, defendem as agências.

A reunião decorreu a 25 de outubro de 2017, mas nada constava no registo oficial dos encontros do vice-presidente da CE. Só após um artigo do jornal Político é que foi acrescentada a referência ao Goldman Sachs.

No entanto, o nome do representante do banco – Durão Barroso – continuou omitido.

É a prova, entende a ALTER-EU, de que o ex-presidente da CE beneficia de “acesso privilegiado” aos principais líderes políticos da Comissão.

A CE já reagiu, com a porta-voz Margaritis Schinas a garantir que o encontro decorreu 36 meses após a saída de Durão Barroso, obrigado a cumprir um período de nojo de 18 meses, e que a legalidade aplicável foi seguida por Jyrki Katainen “religiosamente”.

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