Sócrates: “Não fui um primeiro-ministro corrupto”
José Sócrates negou que tivesse sido um primeiro-ministro corrupto. Na RTP, na primeira entrevista depois de conhecida a acusação, o antigo primeiro-ministro atacou o Ministério Público (MP) e defendeu-se das acusações. “Não fui [um primeiro-ministro corrupto], honrei sempre o meu cargo com aquilo que me pareceu ser o interesse do país”.
Foi, de resto, por aí que o jornalista da estação pública de televisão começou por lançar a questão essencial.
Foi ou não um primeiro-ministro corrupto? “Não fui [um primeiro-ministro corrupto], honrei sempre o meu cargo com aquilo que me pareceu ser o interesse do país”, começou por explicar Sócrates na frase forte de toda a entrevista.
“Ainda ninguém fez a pergunta crítica, essencial e fundamental. Como é que o Ministério Pública prova as ignominiosas acusações que aqui faz?”, questionou o antigo primeiro-ministro.
De fato e gravata azul e numa mesa com as quatro mil páginas da acusação, José Sócrates salientou que “nem nestas folhas nem nas folhas do processo encontrará alguém a fizer que o dinheiro era meu”.
“Estes documentos provam não que o dinheiro é meu mas sim que é de Carlos Santos Silva”, disse, e atirou mais críticas ao MP.
“Deteve e prende para investigar, para amesquinhar.”
Na entrevista, o antigo líder dos socialistas falou ainda da amizade com Carlos Santos Silva.
“É o meu melhor amigo fora da política. Temos uma relação fraterna”, revelou, e contou que “em 2013, Carlos Santos Silva ofereceu-se para ajudar, e assim foi”.
“Sou amigo de Carlos Santos Silva há 40 anos”, assumiu, referindo que “a decisão de pedir dinheiro em numerário foi uma sugestão de Carlos Santos Silva”.
À RTP, na primeira depois da acusação, Sócrates fala em “embuste inicial do MP”.
Falava em código?
Quando questionado se as expressões como ‘dossiê, ‘livros’ e ‘fotocópias’ eram usadas como sinónimo de dinheiro, Sócrates negou e atirou: “Foi por isso que me prenderam?”.
Sócrates e Ricardo Salgado
José Sócrates revelou que tem “respeito e admiração” por Ricardo Salgado e falou sobre esta situação de eventual proximidade.
“Durante as minhas funções como primeiro-ministro nunca me encontrei com o doutor Ricardo Salgado até 13 de outubro de 2006” disse Sócrates.
E acrescentou: “Nunca fui ao banco do doutor Ricardo Salgado, nunca fui a casa do doutor Ricardo Salgado, nunca almocei com o doutor Ricardo Salgado.”
A todas as perguntas colocadas por Vítor Gonçalves, jornalista da RTP, Sócrates negou qualquer envolvimento nas transferências de capitais entre que o Ministério Público acusa os arguidos da ‘Operação Marquês’.
E atacou frequentemente o MP.
“Para o Ministério Público não interessa nenhuma explicação”
A finalizar, Sócrates soltou um desabafo.
“Um Estado democrático de direito põe-me nesta situação de ter de ser eu a provar que sou inocente. Mas, no fim da acusação, não vai sobrar folha sobre folha”, avisou.
Logo depois, um caso insólito. A continuidade da estação pública lançou um anúncio sem se entender a razão e depois voltou a passar a entrevista ao antigo primeiro-ministro.
“Quero que todos os portugueses saibam que este processo não foi um processo justo, foi um processo excecional. A lei dá um prazo de inquérito de 18 meses. A minha prisão foi efetuada não para os objetivos consagrados na lei, mas para investigar.
Mesmo a fechar a entrevista, Sócrates foi questionado sobre como vive atualmente e exaltou-se.
“Não respondo a perguntas do Correio da Manhã. Vítor Gonçalves não lhe posso dar os parabéns por esta entrevista.”
José Sócrates vai responder em tribunal pela alegada prática de 31 crimes, incluindo corrupção e branqueamento de capitais.