Para José Sócrates, a demissão de Miguel Relvas peca por tardia. No entanto, defendeu, “devemos estar mais preocupados com o primeiro-ministro que fica, do que com o ministro que sai”. Cavaco Silva foi novamente alvo de crítica, por não ter pedido a fiscalização preventiva do Orçamento de Estado. Sócrates olha para trás e pergunta: “Valeu a pena a crise política que o PSD provocou?”.
José Sócrates estreou ontem o seu espaço de comentário político na RTP, com a estação pública a colocar o ex-primeiro-ministro em concorrência com Marcelo Rebelo de Sousa, à mesma hora, na TVI. A estação de Queluz, no entanto, antecipou o comentário de Marcelo, o que permitiu à TVI conseguir maior audiência do que a RTP, na noite de ontem.
O ex-primeiro-ministro teceu fortes críticas ao Governo de Passos Coelho, acusado de querer culpar o Tribunal Constitucional, e abordou ainda a saída de Miguel Relvas, que segundo o ex-primeiro-ministro só peca por tardia.
Certo é que a questão da licenciatura de Miguel Relvas tem sido comparada com a licenciatura de Sócrates. O socialista reagiu. “Isso ofende-me. Aqueles que fazem essa comparação agem de má-fé. Eu não sou um filho do insucesso escolar”, disse Sócrates, que lembrou o seu percurso académico.
“Fiz o meu curso de engenheiro técnico civil em quatro anos. E estive mais dois anos no ensino superior. Tirei o meu curso fazendo todas as cadeiras. E nunca tive nenhuma cadeira dada por equivalência. E depois dessa licenciatura, fiz o MBA no ISCTE, em dois anos. A licenciatura foi investigada pelo Ministério Público, com base no falatório… E a conclusão foi que nunca houve favorecimento ou irregularidade”, resumiu.
Cavaco Silva também não foi poupado nas críticas. Para Sócrates, o Presidente da República deveria ter pedido a fiscalização preventiva do Orçamento de Estado, para evitar as complicações que o Governo agora enfrenta.
“Vivemos um momento de instabilidade institucional. E o Presidente da República tem de se situar numa posição de independência. Infelizmente, não usou os seus poderes quando podia e devia, pedindo a fiscalização preventiva do Orçamento. E não devia, naquele momento, fazer uma declaração que soa a moção de confiança. Um Governo de iniciativa presidencial é este: depende da maioria parlamentar e do Presidente da República. É uma grave restrição aos poderes do Presidente, para que tome a solução no sentido de ultrapassarmos as dificuldades, no estado em que está o Governo”, afirmou Sócrates.