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Ser professor passou de profissão digna a humilhante

escola1escola profTodos os anos é este calvário dos professores sem vínculo à função pública. O atraso na publicação das listas de professores não ter sido feita antes da abertura do ano escolar, que aconteceu no dia 1 de Setembro. Porém, a maioria dos portugueses pensa que o ano escolar começa quando têm que levar os filhos à escola, entre dia 11 e 15 de Setembro.

Como o contrato destes professores termina no último dia de Agosto, para todos os efeitos estão no desemprego.

Deste modo passam a receber subsídio de desemprego, mas quando forem colocados por vaga, com efeito a 1 de Setembro, têm que devolver o dinheiro. Um absurdo.

A internet evitou maiores filas nos centros de desemprego, todo aquele aparato e imagem degradante.

Os professores são na maior dos casos notícia por más razões, ou porque são um bando de malandros, ou andam à procura de emprego.

É doloroso ver professores nas filas dos centros de emprego, sentir a ansiedade, o seu cansaço, a sua desesperança e a sua revolta por esta situação. É um sinal de desrespeito, mais um, sobre esta classe vilipendiada e ostracizada ao longo dos anos.

Esta incerteza é o pior, associada à má imagem desta classe. Não é bom para os professores, alunos, pais e quem dirige as escolas no arranque de mais um ano escolar.

Para além desta situação, os professores correm o país de lés a lés para terem um emprego, sem estabilidade profissional sendo utilizados como carne para canhão. Uma vergonha!

Segundo Mário Nogueira o número de docentes contratados tem vindo a diminuir, em 2011 mais de 13mil, 7600 em 2012, e agora são 5454. A redução deve-se à quebra da natalidade, à entrada no quadro de mais de 2700 docentes e ao ajustamento das contratações às necessidades do sistema.

Li vários depoimentos de professores porque desejam abandonar o ensino e conclui: a ineficácia no modelo de avaliação que não valoriza o mérito; a carga de burocrática que deixa os professores assoberbados em trabalho; desvaloriza a preparação de aulas e a perda brutal da qualidade de vida; a actual forma de elaboração de horários obrigou os docentes a ter a seu cargo com frequência mais de centena e meia de alunos, por vezes uma dezena de turmas.

Todavia acrescento que as alterações às regras da aposentação e ao estatuto da carreira docente com os cortes temporários passaram a permanentes. No fundo ser professor passou de profissão digna a humilhante. Os professores são a classe mais maltratada nos últimos anos em que há memória, por outro lado, passam pela fama de terem tudo e mais alguma coisa. Bons salários, emprego seguro, muitas férias, boa vida – mas é mentira.

A ausência de perspectivas de carreira, escassas possibilidades de mudança e não saber o que a espera em termos de salários é algo frustrante.

Para além desta imagem distorcida dos professores, há acrescentar a desmotivação dos professores. A sua motivação e gosto pela profissão era ainda há uns anos atrás o último resquício da capacidade de termos uma boa educação e ensino nas escolas, com o seu esforço alheio a tudo que se passava à sua volta. Mas isso está a acabar. Se falar com um professor de meia-idade ele só fala em reformar-se e vir-se embora. O sonho de ser professor tornou-se um pesadelo com estas políticas de constrangimento às cegas sem olhar a quem.

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