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“Senti Pedro Dias a arrastar-me. Tapou-me com pedras e giestas. E apaguei”, conta o GNR sobrevivente dos crimes de Aguiar da Beira

António Ferreira, GNR sobrevivente do ataque de Pedro Dias em Aguiar da Beira, há cerca de cinco anos, lançou um livro a relatar os momentos de terror vividos às mãos do homem que está preso a cumprir pena máxima, depois de ter fugido às autoridades numa operação que durou semanas de verdadeira caça ao homem, que acabaria por se entregar à Polícia Judiciária em direto na televisão.

O guarda assume que vive com a bala alojada perto da cervical, motivo pelo qual não pode ser submetido a uma intervenção cirúrgica e relata os momentos que passou às mãos de Pedro Dias.

“Não sei precisar o tempo mas foram horas. Fomos a vários sítios pedir matrículas”, relatou, explicando esta terminologia da GNR.

“Quando vemos algum carro estranho pedimos matrículas à sala de situação. Tenho fortes suspeitas que ele queria desviar a atenção, possivelmente, o carro tinha GPS e indicavam os sítios”, acrescentou António Ferreira, em conversa no programa de Manuel Luís Goucha, na TVI.

O GNR relata que de cada vez que entrava em contacto com os postos da guarda, Pedro Dias o avisava: “‘Vê lá o que vais dizer'”.

António Ferreira explicou ainda os momentos que antecederam o tiro com que foi alvejado por Pedro Dias.

“Foi no meio da serra. Deviam ser umas cinco e meia. Era outubro e era escuro. Mandou-me algemar a um pinheiro. O pinheiro secou, não sei porquê. Ouvi um estalo no ouvido e comecei a desmaiar. O corpo foi todo para baixo”, contou.

O GNR prosseguiu com o relato detalhado de tudo aquilo que viveu naquela madrugada.

“Depois senti ele a arrastar-me pelos pés. Foi ele que me arrastou. Tapou-me com pedras e giestas. E apaguei”, detalhou, dizendo que depois não mais viu Pedro Dias.

Horas mais tarde, António Ferreira voltou a si e, debilitado fisicamente, diz que tirou a vegetação.

“Sentia o sangue a escorrer, sentei-me num penedo, tirei o blusão, o polo e coloquei na cabeça para fazer de garrote. Comecei a andar de um lado para o outro. Não sei quanto tempo andei. Escorregava, levantava-me, voltava a cair”.

“Fui salvo pelo canto de um galo”

António Ferreira realça que naquela altura a preocupação era “o Caetano”, o GNR que fazia patrulha e que acabou por morrer na sequência deste ataque de Aguiar da Beira.

O GNR aproveitou a ocasião para agradecer o apoio que tem tido por parte dos “camaradas” da guarda e diz que foi salvo pelo “canto de um galo”.

“Segundo o rasto de sangue, eu chegava perto de povoações e voltava para trás. Eu pensei que estava perdido. E estava perdido. Ao mesmo tempo tinha medo de ser atacado por animais como os javalis que por ali existem.”

António Ferreira referiu ainda que, já a ficar sem forças, ouviu o canto de um galo. “Pensei na morte. O esforço estava a terminar. Ouvi um galo e deu-me energia. Se há galos, há criação e tinha de haver gente. Fui, fui e encontrei uma casa que era do Cabo Santos [elemento da GNR]”.

O GNR acabaria por ser levado para o hospital onde foi tratado, cumprindo ainda agora um plano de recuperação para tentar ter uma vida igual a anteriormente.

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