A crise do euro abre uma porta para o Reino Unido renegociar as condições de integração na União Europeia (UE). Para os britânicos, que não integram o ‘clube’ da moeda única, a única solução para a crise passa por uma maior integração, o que não pode ser feito unicamente pelos 17 países do euro, mas por todos os membros da UE. Para que o Reino Unido aceite essas medidas, o primeiro-ministro David Cameron irá renegociar os termos da integração nos 27.
“A Europa está a mudar, a Zona Euro vai integrar-se mais. É necessário se quiserem salvar a moeda única, mas creio que isso abre uma oportunidade à Grã-Bretanha para conseguir um novo e melhor acordo com a Europa”, explicou Cameron, numa entrevista à BBC.
Qualquer que seja esse acordo de renegociação, será sempre sujeito a escrutínio pelo povo britânico. “Estou determinado em fazer tudo para conseguir esse acordo até às próximas eleições e depois procuraremos obter consentimento para esse novo acordo. Ele precisa de legitimação, seja num referendo ou em eleições gerais”, explicou o primeiro-ministro, confessando que “um referendo é, obviamente, a maneira mais clara, simples e sensata” de obter esse consentimento.
As declarações de Cameron surgem numa altura em que dentro do próprio Partido Conservador surgem cada vez mais vozes a pedir uma renegociação da integração na União Europeia. Começam a formar-se duas correntes, uma que pretende a devolução de algumas competências que passaram para a esfera comunitária e outra, a mais dura, que quer um referendo para decidir a continuidade na UE.
Esta linha mais dura teme que a crise da moeda única venha a ter reflexos eleitorais, numa altura em que se regista uma tendência de subida dos movimentos antieuropeus, como o Partido da Independência do Reino Unido (UKIP). Refira-se que o UKIP sofreu uma cisão no último mês, com o deputado europeu Nikki Sinclaire a criar o “We Demand a Referendum Party”, ou seja, o “partido exigimos um referendo”.
“Provámos que seis em cada dez pessoas querem um referendo sobre esta matéria. É tempo de deixar as pessoas decidir. Se o senhor Cameron não nos der uma votação, vamos exigir uma nas eleições europeias de 2014”, defendeu Sinclaire.
O crescendo das forças antieuropeias obriga David Cameron a um jogo de cintura para manter o Reino Unido na União, mas obtendo mais poderes e competências. Daí que, no domingo, o primeiro-ministro britânico tenha ameaçado bloquear as negociações para o Orçamento comunitário caso não haja um “controlo apropriado” da despesa.
Cameron defende a existência de dois Orçamentos, um para os membros da zona euro e outro para os que não integram a moeda única. Esta opção já valeu o isolamento do Reino Unido perante o Tratado Orçamental da UE, assinado pelos restantes 26 membros.
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