Há 14 anos que os salários dos trabalhadores portugueses não assinalavam uma quebra, o que sucede em 2012, pela primeira vez, desde que a consultora Mercer começou a acompanhar a tendência dos rendimentos em Portugal.
Quase todos os setores das empresas foram afetados, desde os funcionários com salários mais baixos, às chefias. De acordo com a agência Lusa, que teve acesso a este estudo da Mercer, os próximos tempos devem manter a tendência de redução dos rendimentos dos trabalhadores. Só uma inversão da subida do desemprego poderá pôr termo a uma quebra salarial.
O cenário de ajustamento económico que Portugal atravessa levou diversas empresas a diminuírem a massa salarial. Ao mesmo tempo, as empresas passaram a apostar na prestação dos serviços de colaboradores, o que acarreta custos mais baixos.
De acordo com a Mercer, “verifica-se um número excecionalmente elevado de empresas” a optarem pela redução de custos com os trabalhadores: 26 por cento da amostra analisada.
“Há uma ocorrência rara: uma diminuição em termos absolutos dos níveis salariais agregados de muitas funções e níveis funcionais”, refere à Lusa Tiago Borges, responsável pela área de estudos de mercado da consultora Mercer em Portugal.
Por outro lado, o consumo está em retração, o mercado encurta e o efeito de substituição de trabalhadores não sucede com o mesmo ritmo. Saem mais trabalhadores do que entram, nas empresas em Portugal, atualmente.
A questão do desemprego tem relação com esta realidade. Em virtude das dificuldades económicas de algumas empresas, verifica-se um fenómeno segundo o qual os novos trabalhadores aceitam assumir as funções de profissionais dos que saíram, sem que sejam melhor remunerados. Ou seja, as novas contratações, segundo apurou a Mercer, custam menos às empresas, que mantêm os mesmos serviços pagando menores salários aos novos trabalhadores.
Tiago Borges antecipa a realidade no próximo ano, sendo que aquela consultora perspetiva que o incremento salarial continue semelhante ao que se assinala em 2012, “devendo ficar-se entre 1,18 e 1,46 por cento, contra os 1,4 a 1,46 pontos percentuais do ano em curso.
“As empresas continuarão muito conservadoras a nível de incrementos salariais. A tendência [de quebra de salários] será idêntica, enquanto existir uma pressão por parte do desemprego”, revela à Lusa aquele responsável da Mercer Portugal.
O setor mais penalizado com os cortes do salário é o da indústria, sobretudo os trabalhadores administrativos e os operacionais. As descidas atingiram um máximo de 1,8 por cento. Já as descidas dos diretores e administradores são mais ligeiras: cerca de 0,37 pontos percentuais.
A pesquisa ‘Mercer Total Compensation Portugal 2012’ recorreu ao “estudo de 108 837 postos de trabalho em 296 empresas do mercado português”, sendo que 60 por cento são multinacionais, 39 por cento empresas nacionais privadas e um por cento são empresas nacionais públicas.
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