O Ivermectina, o medicamento contra parasitas que valeu o prémio Nobel da Medicina deste ano a dois investigadores, é fabricado quase na totalidade em Portugal. O presidente da empresa assumiu que foi “com grande orgulho” que tomou conhecimento da distinção de Campbell e Omura.
É amanhã que William Campbell, dos EUA, e Satoshi Omura, do Japão, recebem o Nobel da Medicina por terem desenvolvido uma nova terapêutica contra as infeções provocadas por parasitas.
Na base dessa terapia está o Ivermectina, um medicamento que reduz significativamente duas doenças parasitárias e que é feito quase na totalidade em Portugal. E que também tem uso veterinário…
“É um grande orgulho fabricarmos o produto que deu aos seus inventores o prémio Nobel”, afirmou o presidente da Hovione Farmaciencia, Peter Villax, em declarações à Lusa.
Da fábrica, nos arredores de Lisboa, saem todos os anos entre uma a duas toneladas de Ivermectina, suficientes para entre 300 a 600 milhões de comprimidos.
A empresa fabrica o principio ativo para a multinacional farmacêutica Merck, que depois o transforma em compridos e os distribui gratuitamente em todo o mundo, com destaque para a África subsaariana, embora também haja casos das duas doenças parasitárias na América do Sul.
Em causa estão as doenças conhecidas como ‘cegueira dos rios’ e a ‘filaríase linfática’, esta também chamada de ‘elefantíase’, e que afetam milhões de pessoas.
O médico oftalmologista José Gil Forte, que durante vários anos esteve na Guiné-Bissau a trabalhar com doentes infetados e a ministrar Ivermectina, diz que mais de metade da população desse país está em risco de contrair a ‘cegueira dos rios’, que é transmitida pela picada de um pequena mosca e que se não for tratada provoca, entre outros males, a cegueira.
“Na Guiné-Bissau é a principal causa de cegueira e em África a segunda. No norte de Moçambique e em Angola também há zonas infetadas”, acrescentou o médico, em declarações à Lusa, salientando que os conflitos nalguns países tornam difícil a distribuição do medicamento, que impedia muitas infeções com apenas duas tomas por ano.
“É um fármaco importantíssimo”, realçou o especialista, acrescentando que salva da cegueira cerca de 30 milhões de pessoas em cada ano sem apresentar efeitos secundários.
Constando na lista dos medicamentos essenciais da Organização Mundial de Saúde e sendo de distribuição gratuita, o fármaco só não fez erradicar as duas doenças pelas dificuldades de o fazer chegar a populações afetadas, segundo Peter Villax.
Ainda assim, há países que estão em vias de erradicar as duas doenças, como a Colômbia, o Togo, o Equador e o Iémen.
O medicamento que deu o Nobel a dois investigadores é tomado de forma preventiva, segundo o presidente da empresa, mas também cura as pessoas afetadas pela cegueira, embora não recupere as que já estão cegas.
Omura identificou o princípio ativo em 1978 e Campbell purificou a substância, que em 1987 passou a ser distribuída, gratuitamente, pela Merck.
Dez anos depois, a portuguesa Hovione começou a produzir a substância, estando atualmente responsável por quase toda a produção de um antiparasitário que também tem uso veterinário.
A empresa especializou-se na investigação na área da saúde e detém hoje mais de 400 patentes e tem fábricas, além de Portugal, na Irlanda, nos EUA e na China.
Criada em 1959 pelo húngaro Ivan Villax, a Hovione, que tem mais de 1300 trabalhadores, está envolvida em meia centena de projetos de novos medicamentos.