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Rússia e China usam Portugal como “elo fraco do mundo ocidental”, avisa especialista em contrainformação

Quer a Rússia, quer a China olham para Portugal como o elo mais fraco das instituições ocidentais, como a União Europeia e a NATO. O nosso país tornou-se num “alvo apetitoso” para servir como porta de entrada para espiões e sabotadores, avisou Vítor Madeira.

O conceituado investigador do Statecraft Institute, que foi um dos especialistas convocados pelo Parlamento britânico para comentar as alegadas interferências da Rússia na sociedade e política britânicas, salientou que os serviços secretos russos continuam a agir num clima de Guerra Fria.

Especialista em contrainformação e subversão, Vítor Madeira apontou Portugal como “um alvo apetitoso” para a Rússia e também para a China, uma vez que é “um elo fraco” das instituições que defendem as democracias ocidentais.

“A influência russa em Portugal tem longa história”, lembrou o especialista, em entrevista ao Diário de Notícias.

“Nos últimos anos, muita desinformação russa chega a Portugal através da RT e Sputnik Brasil”, explicou.

E é através dessa desinformação que a Rússia vai disseminando a “narrativa” que mais lhe convém, numa Guerra Fria que mantém com o Ocidente desde o início do século XX.

“Por causa de atitudes nacionais brandas em relação à segurança e defesa, resultantes da história portuguesa e agravadas pela crise económica pós-2006/07, tanto a Rússia como a China consideram Portugal um elo fraco na defesa de instituições ocidentais como a NATO, a UE e a OSCE”, alertou.

Portugal é, “portanto, um alvo apetitoso, um ponto de entrada”, insistiu o especialista.

Quais são os perigos? Atos que “não recebem tanta atenção como o terrorismo ou a pequena criminalidade”, mas que se vão manifestando “diária e silenciosamente”, minando a democracia.

“Um aumento de corrupção e influência externa nociva devido aos ‘Vistos Gold’, ataques ‘ciber’ contra várias instituições nacionais, campanhas agressivas de espionagem clássica ou económica e de subversão”, exemplificou.

“O Ocidente geralmente pensa que a Guerra Fria só começou depois da II Guerra Mundial, mas para os serviços de segurança e informações russos o verdadeiro conflito entre eles e nós começou em 1917 e continua sem interrupção até hoje”, salientou Vítor Madeira.

Com a ascensão do regime de Vladimir Putin, “estes serviços deixaram de ser simples instrumentos de um Estado Russo mais ou menos democrático e tornaram-se no próprio Estado”, ferramentas à disposição do “pequeno grupo que hoje controlo o destino de um povo”.

“A maior diferença entre ontem e hoje é o dinheiro e, portanto, o poder e a corrupção. O conflito hoje em dia não é entre sistemas económicos, capitalismo contra comunismo, mas sim um conflito de valores e princípios”.

Não admira, concluiu o investigador, que a Rússia tenha sido a principal financiadora da campanha pelo Brexit, levando o Reino Unido a abandonar a União Europeia.

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