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Rui Madeira deu “salto no escuro” e hoje é chefe da torre de controlo de Cabul

Rui Madeira, chefe da torre de controlo do aeroporto de Cabul, onde vive há mais de dez anos, não perdeu o sotaque algarvio e admite que a ida para o Afeganistão “foi um salto no escuro”.

“Graças a Deus correu bem”, segundo o ex-oficial da Força Aérea Portuguesa (FAP), que disse à Lusa não se ter sentido ameaçado durante os anos em que vive na capital do Afeganistão, país onde estava Osama Bin Laden, ex-líder da Al Qaeda, em 2001, quando se deram os atentados contra o World Trade Center, e palco de numerosos atentados.

Medo? “Só os loucos não têm medo, mas o medo não é atrofio”, afirmou.

Nem que, para andar na rua, se vista como os afegãos, com “pacol” e “pijama”, afirmando, com um sorriso: “Fardo-me como eles”. E está convencido de que não é “alvo” para os talibãs, ao contrário dos soldados, por exemplo.

Na visita de domingo, este algarvio de 57 anos foi o único civil, entre os militares portugueses, que cumprimentou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, à sua chegada à base da NATO na missão Resolve Solution (RS).

Há dez anos, era oficial da FAP e soube que a NATO iria recrutar controladores aéreos para Cabul, para a ISAF, e foi-se mantendo “atento à internet”.

“Quando apareceu uma posição, concorri e ganhei”, recordou à Lusa, em Cabul.

Hoje, é quadro da empresa norte-americana que gere a torre de controlo e é responsável pela formação de técnicos de controlo aéreo, frequentado por seis mulheres, algo pouco usual num país como o Afeganistão.

Vive na base da NATO, do lado norte do aeroporto, e é um dos cerca de 15 portugueses a viver em terras afegãs.

Também associado ao trabalho da NATO, Helder Ferreira, ex-militar da Força Aérea Portuguesa, é bombeiro do aeroporto há cinco anos, numa empresa estrangeira.

Mudou de vida, de país, trabalha três meses, também numa empresa americana, a dar formação, e tem um mês de férias, que é quando vai a Portugal.

Rui Madeira viaja e diz conhecer bem o Norte do Afeganistão. Foi numa dessas viagens que, em Herat, teve de se abrigar num ‘bunker’ e foi aí que percebeu que há mais um português naquele país: um ‘chef’ de Lisboa, hoje com 70 anos, que trabalha no restaurante da cidade.

Agora, os seus planos passam por continuar a trabalhar mais algum tempo – tem hoje 57 anos – e voltar ao seu país para gozar a reforma.

No Afeganistão, país sem costa nem mar, diz, em tom de brincadeira: “Não vou morrer afogado.”

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