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Rodrigues dos Santos versus Sócrates: A entrevista, o entrevistador e a polémica

jose socrates3jose socrates 600O comentário de José Sócrates na RTP transformou-se numa entrevista em que José Rodrigues dos Santos, jornalista do canal público, confrontou o ex-primeiro-ministro com diferenças de discurso, entre o passado do político e o presente do comentador. A polémica foi parar às redes sociais, ao ponto de Rodrigues dos Santos usar o espaço do escritor no Facebook para dar uma lição de jornalismo aos telespectadores que o criticam de parcialidade.

José Sócrates foi ontem ‘surpreendido’, na RTP, com uma entrevista “confrontacional”, em que José Rodrigues dos Santos confrontou o ex-primeiro-ministro com diferenças de visão entre o passado e o presente.

O habitual comentário deixou de o ser e o caso foi parar às redes sociais, onde o jornalista José Rodrigues dos Santos foi alvo de críticas ferozes de leitores que o acusaram de imparcialidade. E foi no seu espaço como escritor no Facebook que o jornalista respondeu aos críticos.

Rodrigues dos Santos explicou que não tem, como jornalista, a obrigação de manter a isenção quando exerce o contraditório. “O jornalista suspende por momentos a sua isenção para questionar o entrevistado. Isto é uma prática absolutamente normal. O entrevistador não o faz para “atacar” o entrevistado, mas simplesmente para fazer o contraditório”, salienta.

No caso que envolveu José Sócrates, ontem, Rodrigues dos Santos sublinha que não houve qualquer surpresa. “É falso que José Sócrates desconhecesse esta minha linha de pensamento. Almoçámos e expliquei-lhe o meu raciocínio. Avisei-o de que, se encontrasse contradições ou aparentes contradições entre o que diz agora e o que disse e fez no passado, as colocaria frente a frente e olhos nos olhos”, revela o jornalista.

Rodrigues dos Santos considera que há muita gente a “falar mal nas costas” de José Sócrates “e ninguém pelos vistos se atreve a colocar-lhe as questões frontalmente”. O jornalista salienta que “é lamentável falar mal pelas costas e calar quando se está diante da pessoa”.

José Rodrigues dos Santos defende ainda que há uma diferença entre o discurso de José Sócrates comentador e o discurso de José Sócrates primeiro-ministro.

“Quando era chefe do Governo, começou a aplicar medidas de austeridade. No PEC I foram muito suaves (cortes em deduções fiscais e outras coisas), mas foram-se agravando no PEC II (aumento de impostos) e no chamado PEC III, que na verdade era o Orçamento de 2011 (corte de salários no sector público, introdução da Contribuição Especial de Solidariedade aos pensionistas, aumento de impostos, cortes nas deduções, etc.)”, salienta Rodrigues dos Santos.

Sócrates “afirmou em público que ‘a austeridade é o único caminho’. Agora, nas suas declarações públicas, ele mostra-se contra a austeridade. Estamos aqui, pois, perante uma contradição – ou aparente contradição. Não tem um jornalista o dever de o colocar perante essa (aparente ou não) contradição, dando-lhe assim oportunidade para esclarecer as coisas?”, questiona Rodrigues dos Santos.

Sobre a alegada ‘adulteração’ de um espaço de comentário de José Sócrates, que passou a ser alvo de uma entrevista dura, Rodrigues dos Santos salienta que “o entrevistador não é nem pode ser uma figura passiva que está ali para oferecer um tempo de antena ao político. O entrevistador não é o “ponto” do teatro cuja função é dar deixas ao actor. Ele tem de fazer perguntas variadas, incluindo perguntas incómodas para o entrevistado. Não deve combinar perguntas com os políticos, mas deve informá-lo dos temas. No acto da entrevista o entrevistado “puxa” pela sua faceta positiva e o entrevistador confronta-o com a sua faceta potencialmente negativa. Espera-se assim que o espectador veja as duas facetas”.

A verdade é que José Sócrates não é ‘pioneiro’, no mau hábito dos políticos, que mudam de discurso quando passam da oposição para o Governo, ou do Governo para a oposição. Pedro Passos Coelho, recorde-se, chumbou o PEC 4 por não aceitar que as famílias voltassem a ser alvo de austeridade.

O mesmo Passos Coelho seguiu a linha de austeridade depois de eleito primeiro-ministro. José Rodrigues dos Santos tem aqui um bom assunto para desenvolver, numa futura (e hipotética) entrevista com o atual chefe do Governo.

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