Economia

Restauração em Lisboa adapta-se ao regime de estado de emergência

De portas fechadas ou com acesso limitado devido à covid-19, os estabelecimentos de restauração do bairro do Calhariz de Benfica, em Lisboa, garantem hoje refeições prontas a levar, ainda que com pouco movimento, destacando-se a procura da população idosa.

“Nesta zona, temos muitas pessoas de idade, que estão sozinhas em casa e que já não cozinham, e procuram os nossos serviços, só que, também, acho que hoje não procuram porque estão com receio de sair à rua”, afirmou Salete Canha, gerente de um dos espaços de restauração na Estrada de Benfica, que a partir de hoje só tem o serviço ‘take-away’ e só permite uma pessoa de cada vez dentro do estabelecimento.

Restringindo toda a oferta ao serviço de ‘take-away’, na sequência de uma das medidas do Governo, anunciadas na quinta-feira, no âmbito do estado de emergência devido ao surto de covid-19, a gerente deste estabelecimento disse que houve uma quebra na procura, talvez porque “as pessoas, neste momento, estão preparadas para fazerem as refeições em casa”.

“No dia-a-dia, temos mais ‘take-away’ do que hoje”, avançou Salete Canha, em declarações à Lusa, assegurando que o restaurante está preparado para continuar de portas abertas, ainda que com limitações, a não ser que as autoridades decidam o contrário.

Deixando em casa o marido, que “já está com 81 anos e é diabético”, Júlia Almeida saiu à rua para ir à farmácia e buscar o almoço pronto.

“A manhã é mais pequena, é mais stressante, tive que ir à farmácia, já não dá tempo para fazer almoço, mas o jantar, estou a tarde toda em casa, que já não saio, estamos os dois muito sossegadinhos em casa, já faço o jantar”, contou.

Protegendo-se apenas da chuva e mantendo a distância social, porque “isso é que conta” para evitar possíveis contágios do novo coronavírus, Júlia Almeida pretende continuar a ir comprar refeições prontas.

“Só para os dois, estar a cozinhar não vale a pena, por vezes, e estou habituada a vir aqui buscar a comida. É muito boa, servem muito bem, e é esse trabalho que tenho a menos”, referiu a lisboeta.

Num outro estabelecimento de restauração, no bairro lisboeta do Calhariz de Benfica, Luís Soares, de 84 anos, assume-se como cliente habitual e sem talento para cozinhar, acrescentando que ainda na quinta-feira esteve a almoçar dentro do restaurante, mas hoje fica à porta para levar ?take-away’ e comer em casa.

“Ainda cá vi almoçar ontem [quinta-feira], sugeri exatamente o ‘take-away’, para eles fazerem, porque ao princípio não estavam vocacionados para isso, portanto fui dos primitivos para dizer para fazer”, expôs o freguês, que mora a 200 metros do restaurante, onde foi levantar o almoço que “já tinha encomendado”.

Sobre as medidas do Governo, nomeadamente que idosos com mais de 70 anos só podem sair à rua em “situações excecionais”, Júlia Almeida e Luís Soares concordam e apoiam a decisão de permitir que os restaurantes se mantenham abertos com o serviço de ‘take-away’.

Gerente da casa onde Luís Soares é cliente habitual, estabelecimento com as portas abertas há 60 anos, Virgílio Caseiro observou que “é a primeira vez” que servem os clientes de porta fechada, o que “é muito incómodo”.

“Muito difícil, perdemos imensos clientes, não faturamos, temos despesas a pagar e é muito complicado”, apontou o responsável deste espaço de restauração, que tem fornecido ‘take-away’, serviço que não dispunham, mas que é hoje a única forma de “tentar fazer alguma coisa, nestas condições”.

Até perto das 14:30 de hoje, este restaurante atendeu cerca de 15 pessoas, indicou Virgílio Caseiro, sem saber como será a procura nos próximos dias, mas com a certeza de que o estabelecimento vai continuar “a fazer um prato do dia” e a servir os clientes à porta.

Em relação ao preço, a refeição custa “uma média de 7,20 euros, mais a embalagem 7,50 euros”, revelou o gerente, realçando que “o preço da refeição é o mesmo que seja praticado dentro do estabelecimento” e que os clientes podem levar as próprias embalagens.

No restaurante gerido por Salete Canha, os fornecedores continuam a abastecer normalmente, mas tem-se notado “algum acréscimo nos valores”, o que poderá ter impacto no valor pedido ao consumidor final.

“Ainda não aplicamos essa subida de alguns produtos, mas provavelmente se continuar a subir, vamos ter de alterar os preços”, declarou a responsável, defendendo ainda que deve ser ajustado o Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) para ‘take-away’, que é de 23%, enquanto o consumo da refeição no restaurante é taxado em 13%.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, infetou mais de 250 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 10.400 morreram.

Das pessoas infetadas, mais de 89.000 recuperaram da doença.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se já por 182 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) elevou hoje o número de casos confirmados de infeção para 1.020, mais 235 do que na quinta-feira.

O número de mortos no país subiu para seis.

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