Ciência

Reino Unido é o primeiro país a legalizar a conceção ‘in vitro’ de crianças com ADN de três pessoas

O Reino Unido tornou-se hoje no primeiro país a permitir e a regular a conceção ‘in vitro’ de crianças com o ADN de três pessoas, de modo a prevenir doenças hereditárias graves.

A autorização foi cedida pela Autoridade de Fertilização e Embriologia (HFEA) que retirou o último obstáculo para aplicar a técnica contra as doenças mitocondriais. Segundo a presidente do organismo, Sally Cheshire, o país é “pioneiro no mundo”, tratando-se de um momento histórico.

“É uma decisão histórica e estou certa de que os pacientes que esperam por este tratamento estarão realmente satisfeitos com o que decidimos hoje”, afirmou Sally, acrescentando que será necessário aplicar a técnica com cautela.

Mary Herbert, professora de biologia reprodutiva na Universidade de Newcastle, explicou que “é gratificante que tantos anos de pesquisa neste campo possam finalmente ser aplicados para ajudar famílias afetadas por estas doenças devastadoras”.

O Parlamento aprovou a lei há quase um ano e meio atrás, pelo que as primeiras crianças resultantes desta técnica podem nascer já no próximo ano.

Porém, quando o Parlamento aprovou esta lei surgiram algumas críticas contra a mesma, alegando que esta técnica abria a porta para os bebés ‘a la carte’. David King, diretor do grupo Human Genetics Alert, lamenta que o país rompa o consenso internacional de que não se deve modificar os seres humanos geneticamente.

Para além de receber o ADN normal da mãe e do pai, a criança também poderá receber uma pequena quantidade de ADN mitocondrial saudável de uma mulher doadora.

As mitocôndrias são a fonte de energia das células humanas. A sua função é converter o açúcar e o oxigénio na energia que as células precisam para funcionar. Nelas está apenas contido cerca de 0,1% do ADN de uma pessoa, são herdadas da mãe e não têm influência em características individuais, como a aparência e a personalidade.

Contudo, as doenças mitocôndrias podem ter consequências muito graves, afetando os principais órgãos, podendo provocar cegueira ou perda de massa muscular.

Quando as mitocôndrias não conseguem converter de forma eficiente o açúcar e o oxigénio em energia, as células não conseguem funcionar corretamente.

“Há muitos transtornos médicos que podem ser descritos como doenças mitocondriais. Oscilam entre leves e fatais. De qualquer forma, o DNA mitocondrial é herdado apenas das mães, e as mulheres correm o risco de transmitir doenças graves aos seus filhos”, explicou Adam Balen, presidente da Sociedade de Fertilidade britânica.

O New England Journal of Medicine publicou recentemente um estudo em que sugeria que 2.473 mulheres britânicas correm o risco de transmitir uma doença mitocondrial potencialmente letal aos seus filhos.

Os cientistas do Centro Welcome Trust de pesquisa mitocondrial da Universidade de Newcastle estão entre os pioneiros da doação mitocondrial e serão os primeiros a disponibilizar o tratamento, pelo que esperam aplicar esta técnica a 25 mulheres por ano, através de financiamento público.

A substituição mitocondrial evita que a doença se desenvolva em uma criança e nos seus descendentes.

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