Economia

Reduzir dívida pública, das empresas e famílias ajudaria a enfrentar abrandamento económico

A redução dos níveis de endividamento dos Estados, das empresas e famílias ajudaria consumidores, empresas e governos a enfrentar um novo abrandamento económico, indicou Jorge Rodriguez-Valez, vice-presidente e ‘senior credit officer’ da Moody’s, em entrevista à Lusa.

“Se os níveis de endividamento são muito elevados, a redução da dívida pública, do nível de endividamento das empresas e das famílias iria definitivamente ajudar consumidores, empresas e também governos num período de abrandamento económico”, afirmou Jorge Rodriguez-Valez, adiantando que qualquer país europeu ficaria numa melhor posição para enfrentar uma mudança no ciclo económico.

De acordo com o vice-presidente da Moody’s, ao longo dos últimos 10 anos registou-se um “longo período de expansão económica, à escala global, relativamente bom e saudável”. Contudo, “as medidas adotadas há anos para estimular a economia e para evitar uma ainda maior depressão económica acabaram e vamos enfrentar um período de normalização dessas circunstâncias”, antecipou.

Rodriguez-Valez indicou que, depois das vigorosas medidas adotadas nos últimos anos por bancos centrais e governos, haverá uma subida dos juros, que não deverá ser acentuada. “Antecipamos um período de normalização nos próximos anos, com os juros a subir a diferentes ritmos na Europa, nos Estados Unidos e no Banco de Inglaterra, mas permanecendo em níveis historicamente muito baixos”, disse.

“Ainda vemos muitos países na Europa onde a dívida é muito elevada e não apenas a dívida pública, mas também a dívida das empresas e das famílias. Se a dívida é muito elevada naturalmente quando se enfrenta uma mudança no ciclo e um abrandamento económico esses níveis de dívida reduzem a capacidade de consumidores, empresas e governos enfrentarem esse abrandamento e isso é uma vulnerabilidade”, sublinhou.

Muito associada a esta vulnerabilidade está a reduzida margem de manobra de governos, bancos centrais e outros responsáveis e decisores para implementar medidas que estimulem a economia, fazendo face à tendência de abrandamento, afirmou Jorge Rodriguez-Valez.

“Isso é muito claro em termos de política orçamental. Os governos têm menos espaço para implementar novas medidas que impulsionem a economia porque os atuais níveis de dívida ainda são muito elevados e também porque num grande número de países, nomeadamente na Europa, os défices estruturais ainda existem e provavelmente irão agravar-se cada vez mais num período de desaceleração”, disse o vice-presidente da Moody’s, frisando que existe um limite para a ação dos bancos centrais e dos governos.

Questionado sobre quais os setores mais expostos à mudança no ciclo económico, o especialista referiu que o impacto do abrandamento económico não será homogéneo, destacando os setores de serviços ao consumidor, dos media e do retalho.

Relativamente ao potencial impacto do Brexit em Portugal, Jorge Rodriguez-Valez referiu que “existem muitas ligações entre o Reino Unido e Portugal, por exemplo, ao nível do turismo e do número de portugueses que vivem naquele país”, contudo considerou que a exposição de Portugal não é tão significativa como a de países como Irlanda, Holanda e Malta.

O responsável falou à agência Lusa à margem da conferência anual da Moody’s em Lisboa, sobre as tendências creditícias europeias.

Em destaque

Subir