Mundo

Ramos-Horta apela a diálogo entre líderes para resolver impasse em Timor

O ex-Presidente timorense José Ramos-Horta apelou hoje aos líderes nacionais e em particular a Xanana Gusmão, presidente do maior partido da coligação do Governo, para que resolvam rapidamente o impasse político no país.

O caso mais polémico, e que está desde junho por resolver, diz respeito a nove membros do Governo indigitados pelo primeiro-ministro Taur Matan Ruak e a quem o Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, ainda não deu posse, alguns por terem “o seu nome identificado nas instâncias judiciais competentes” e outros por possuírem “um perfil ético controverso”.

O Governo apresentou alternativas a três deles e o Presidente acabou por assinar, nesses casos, decretos de nomeação que acabaram por não ter efeitos práticos, já que os ministros nomeados não tomaram posse, em solidariedade com os colegas.

Um deles foi Xanana Gusmão que foi nomeado por duas vezes para cargos diferentes no Governo da coligação da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) e que acabou por nunca tomar posse, afastando-se depois do grupo de ministeriáveis.

Xanana Gusmão, cujo nome foi anunciado durante a campanha eleitoral pelo presidente ao Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) como futuro primeiro-ministro, acabou por deixar esse lugar para o número dois da AMP, Taur Matan Ruak, que lidera o Partido Libertação Popular (PLP).

“Daqui faço apelo ao meu irmão mais velho, Xanana Gusmão. Ele pode dizer que não é primeiro-ministro, dizer que não quer interferir ou intervir, mas ele não deixa de ser o maior pai desta nação. Este país não seria livre e independente sem a sua visão estratégica naqueles anos duríssimos”, disse à Lusa Ramos-Horta.

“Portanto não pode escapar à sua responsabilidade de patrono deste projeto de independência de Timor. Assuma a sua responsabilidade como sempre fez no passado, converse com o Presidente Lu-Olo, com Mari Alkatiri, com outros membros dos partidos da oposição, para encontrar a melhor estratégia político governativa para os próximos cinco anos, que vão ser difíceis”, afirmou.

A situação política levou já as bancadas do Governo no Parlamento Nacional a chumbar dois pedidos de autorização de visita do Presidente da República ao estrangeiro, a primeira para julho, em Portugal, a segunda para esta semana, em Nova Iorque.

Ramos-Horta considera que “é preciso mobilizar consenso político nacional e recursos nacionais para o verdadeiro arranque económico que inclui o desenvolvimento da costa sul” e que todos estão à espera de um passo de Xanana Gusmão.

Apesar de se mostrar confiante que a atual estabilidade social se manterá e que não haverá violência, Ramos-Horta disse que é “palpável a frustração da sociedade, dos jovens” e a “desconfiança em que os lideres estão a cair perante a população”.

Ao mesmo tempo, Ramos-Horta pediu hoje ao Presidente da República para que promulgue o mais rapidamente possível o Orçamento Geral do Estado para 2018, já que o país necessita urgentemente de fundos para reativar a economia.

“Há sempre o perigo de as pessoas, os jovens, os veteranos, perderem a paciência. Não havendo financiamento, a crise social aumenta e as pessoas precisam de dinheiro para comer e dar de comer aos seus filhos”, disse à Lusa, em Díli.

Ramos-Horta recorda que o Orçamento tem que ser “promulgado o mais rapidamente possível” porque o executivo já tem pouco mais de três meses para desembolsar o dinheiro referente a 2018, ano em que o país tem estado a viver com duodécimos.

“O Presidente da República já teve muito tempo, acompanhou o debate do Orçamento no Parlamento e o partido de que ele ainda é presidente, a Fretilin, apoiou, portanto não me parece que haja razão para demora”, disse.

“Não estamos numa situação normal em que ele tem um mês. Estamos numa situação anormal, logo deve acelerar o processo de promulgação do Orçamento”, defendeu.

Em destaque

Subir