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“Ingerência” do poder político é inaceitável, critica o premiado Linhares Furtado

A “ingerência burocrática administrativa” do poder político estendeu-se “longe demais”, ao ponto de sobrepor-se ao “conhecimento” e “competência” dos médicos. A crítica é de Alexandre Linhares Furtado, o médico hoje distinguido com o Prémio Nacional de Saúde 2011, em cerimónia realizada no Infarmed (Lisboa).

Alexandre Linhares Furtado, o melhor médico do ano passado, aproveitou a receção do Prémio Nacional de Saúde 2011 para criticar a forma como o poder político estende os ‘tentáculos’ na área clínica, ao ponto de influir na composição das direções dos serviços de ação médica: “no campo dos princípios, é intolerável o desrespeito pelo princípio da competência que, na prática, se vê frequentemente triturado nas malhas das ramificações político-administrativas periféricas e outras de matizes multicolores”.

Para este médico, o primeiro a transplantar um rim em Portugal, a “ingerência burocrática administrativa” de quem se mexe nos corredores do poder “estendeu longe demais ‘o poder do poder’, sobre o primado do conhecimento e as definições da competência”.

Isto significa uma inversão de valores, pois “a competência da área médica é isoladamente considerada o mais poderoso fator de credibilidade do sistema, com a relevância crucial na sua sustentabilidade global e evolução positiva”.

Ao receber o Prémio Nacional de Saúde 2011, Linhares Furtado classificou de “exemplo objetivo e inaceitável” que “o poder político, através de uma cadeia administrativa de dependência fortemente politizada, se prolongue até à seleção das direções dos serviços de ação médica”.

Mais do que a competência, valoriza-se a politização da cadeia de comando, adulterando a finalidade de todo o setor da saúde. Por este motivo, o clínico considera urgente dar início à “inadiável reconformação do sistema às atuais realidades”, o que só será viável se os próprios clínicos assumirem as responsabilidades inerentes: “encontrar o melhor caminho para evitar ou atenuar o indesejável exigirá, por um lado, a retração dos limites da gestão política na área da saúde e, por outro, um grande esforço de autorreflexão das instituições profissionais, nomeadamente da Ordem” dos Médicos.

Linhares Furtado revelou ainda que o estado atual desta “ingerência burocrática administrativa” era antecipável desde a criação do Serviço Nacional de Saúde: “sempre me pareceram desajustadas as ambições inscritas no modelo estatal e tendencialmente monopolizador dos nossos cuidados de saúde, a que prestei o meu serviço de alma e coração, face ao quadro social político em que o país teria de mover-se”.

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