Cultura

Produtor Paulo Branco diz que é preciso levar mais cinema independente ao interior

O produtor de cinema Paulo Branco defende ser necessário fazer-se mais cinema independente em Portugal e no resto da Europa, e mostrá-lo para lá dos grandes centros urbanos, por todo o lado, em particular nas cidades do interior.

Em entrevista à agência Lusa, no âmbito do Festival Internacional de Cinema Cine Côa, que decorre em Vila Nova de Foz Côa, no distrito da Guarda, até sábado, o produtor cinematográfico, homenageado pelo certame, considera que ainda “é um pouco difícil” levar o cinema mais independente ao interior do país.

“Há um circuito alternativo de distribuição de filmes, e todos nós pretendemos que ele se desenvolva. O meu trabalho também contribuiu para mostrar o que de melhor se faz ao nível do cinema e trazê-lo às mais diversas vilas e cidades do interior de Portugal, escapando, assim, à previsão de que o cinema vai acabar”, disse o produtor.

Paulo Branco atira que “o cinema não é ‘comer pipocas'”. É preciso ir mais além e despertar a curiosidade das gerações mais novas, defende, em declarações à Lusa.

“Há muito trabalho a fazer em Portugal. Houve um hiato nesta matéria, e agora passa pelas escolas, pelos cineclubes, pela imprensa e pelas plataformas digitais, divulgar o cinema que se faz em Portugal. Noutros países da Europa este trabalho está consolidado e, em Portugal, ainda não se fez”, frisou.

O produtor defende que ainda se está a tempo de voltar a ver o cinema nas grandes salas, onde existe “uma maior fruição” das obras cinematográficas.

“Quando se está em casa diante de um televisor ou de um computador, a ver filmes, a maior parte das vezes somos distraídos por diversas situações que acontecem, e não estamos concentrados no que estamos a ver. Os filmes, como qualquer obra de arte, precisam de ser apreciados e, se não for em sala de cinema, dificilmente isso pode acontecer”, justificou à Lusa.

Paulo Branco, que programa salas em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Figueira da Foz, defende que o “afastamento” do público das salas de cinema “não é só um problema de algumas gerações mais novas”.

“As elites também contribuíram para que esta situação acontecesse, e deixaram de ir às salas de cinema, deixaram de ter contacto com a arte cinematográfica. Pura e simplesmente, são raríssimas as pessoas que vão às salas de cinema. Veem os filmes em casa ou em outros espaços, [muitas vezes] em situação ilegal e pirateiam os filmes, tanto como os jovens, e também se vangloriam destas situações, quase como uma afirmação”, observou.

Paulo Branco deixou claro durante a entrevista à Lusa que não está contra a liberdade de acesso ao cinema por outros meios, como os das plataformas existentes nos novos meios de comunicação.

“Deve-se travar uma batalha para que as pessoas percebam que é nas salas de cinema, onde os filmes realmente dão tudo o que têm para nos dar”, enfatizou o produtor, também distribuidor cinematográfico.

O produtor destaca, ao mesmo tempo, a existência de boas salas para a projeção de filmes, em todo o país, mesmo no interior profundo. A realidade mudou, defende à Lusa. Antigamente era “desesperante” o desaparecimento sistemático de equipamentos e sítios para a projeção de filmes, recorda.

Paulo Branco marcou presença em Vila Nova de Foz Côa, onde foi homenageado no Cine Côa, Festival Internacional de Cinema. No contexto da celebração, foi projetada, em antestreia, a sua mais recente produção, “Caderno Negro”, de Valéria Sarmiento.

“Fiquei surpreendido com homenagem”, disse o produtor à Lusa.

“O Caderno Negro”, livremente inspirado no “Livro Negro de Padre Dinis”, de Camilo Castelo Branco, é a história de uma enfermeira de origens desconhecidas e do seu jovem protegido, do amor que os une e ao mesmo tempo os separa.

A obra conta com os desempenhos de Lou de Laâge, Stanislas Merhar, Niels Schneider e Victoria Guerra, como Maria Antonieta, e teve a sua antestreia nacional em Vila Nova de Foz Côa, depois de ter passado pelo festival de cinema de San Sebastián, em Espanha.

Paulo Branco, produtor de cinema desde 1979, é atualmente responsável pela Alfama Films.

No seu currículo conta a produção de mais de 250 filmes de cineastas como Manoel de Oliveira, João César Monteiro, João Canijo, João Botelho, Teresa Villaverde e Pedro Costa, tendo igualmente trabalhado e produzido obras de realizadores como Wim Wenders, David Cronenberg, Alain Tanner, Werner Schroeter, Raúl Ruiz, Chantal Akerman, Valeria Bruni-Tedeschi e do escritor norte-americano Paul Auster, com quem trabalhou na produção de “A vida interior de Martin Frost”.

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