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Primeiro farol de Cabo Verde volta a receber visitantes até maio

O farol Dona Maria Pia, o primeiro de Cabo Verde e ex-líbris da Praia, está de cara lavada e com novidades para os visitantes, continuando a orientar os barcos com a sua luz, a 25 metros de altura.

O “senhor farol”, como é apelidado pelos habitantes da capital cabo-verdiana, há muito que precisava de uma intervenção de fundo e por isso são muitos os curiosos que, alertados pelo branco imaculado das suas paredes se aproximam da construção, na Ponta Temerosa.

A intervenção que agora está na reta final, permitirá que até maio as portas da estrutura, já remodelada, voltem a abrir aos visitantes, agora com função museológica.

A sua torre e cúpula são visíveis de toda a costa da Praia. Com o mar a sul, está ladeado de duas das principais praias da capital cabo-verdiana: Quebra Canela e Prainha. A norte fica a cidade. A sua luz, que se liga à noite, é visível a 15 milhas no mar, cerca de 30 quilómetros.

João Deus, do Instituto Marítimo Portuário (IMP), capitania dos portos de Sotavento, explicou à agência Lusa que “os perigos para os navios que andam no mar é quando se aproximam das costas, da entrada dos portos, onde o tráfego é maior, existem baixios, rochas”.

“Os faróis existem para dar essa sinalização aos navegantes, para terem linhas de posição mais corretas, mais seguras, para fazerem a sua entrada e saída”, acrescentou, reconhecendo que a evolução da tecnologia, nomeadamente dos satélites, diminuiu um pouco o papel dos faróis.

Contudo, “os faróis continuam a ter essa importante função de ajuda à navegação, principalmente às embarcações mais pequenas, que não têm esses equipamentos mais modernos, que custam algum dinheiro”.

Construído em finais de 1880 e inaugurado um ano depois, este farol foi erguido sobre uma fortificação militar, da qual ainda são visíveis dois canhões. A luz que emite já foi alimentada a petróleo, depois a gás acetileno, que vinha de Portugal, e agora funciona com energia elétrica, apoiado em baterias.

A localização do farol é a principal razão da sua degradação, pois “sendo uma ajuda importante à navegação, está sempre num local muito próximo da costa, sobranceira ao mar, que é uma zona de forte rebentação e que é fustigada pelos ventos alísios que fustigam Cabo Verde durante o ano todo”, afirmou João Deus.

Mas os faróis sofrem ainda outras ameaças, como aconteceu quando os faróis mais pequenos foram abastecidos com painéis solares, de modo a ser aproveitada a tecnologia solar.

“Como estão em lugares inóspitos, não têm faroleiros, foram sempre vandalizados pelos pescadores, os que usufruem da função do farol, coisa que nós não entendemos”, disse.

Segundo João Deus, foram muitos os problemas e os gastos que esses atos causaram e, apesar de os infratores terem sido identificados, ficaram impunes.

Mas o Farol Dona Maria Pia está protegido. Tendo sido o primeiro a ser erguido em Cabo Verde é o último a ter ainda um faroleiro.

“Se não tiver o faroleiro, a tentação do vandalismo é muito grande. E não é só em Cabo Verde, é em todo o lado. Os faróis têm de ser guardados para serem mantidos”, defendeu.

A última manutenção foi feita em 2012, com a ajuda da Rotary Club Maria Pia, da Praia.

Em 2010, foi desenvolvido com Espanha um programa mais alargado de recuperação de 26 dos 74 faróis que existem em Cabo Verde, nomeadamente os de maior dimensão e mais úteis, como o da Praia.

A crise que afetou Espanha em 2008 e 2009 atrasou o processo, que só foi desbloqueado em 2015, após demoras relacionadas com o concurso público.

À entrada da torre do farol passará a funcionar um pequeno museu, com peças ligadas ao farol, como lentes, código internacional de sinais, “e outros equipamentos que vão ser lá colocados para quando os turistas visitarem os faróis verem a sua utilidade, o que se usava antigamente e caiu em desuso”.

João Deus acredita que os visitantes não vão faltar e serão muito mais do que os 300 mensais que se registavam nos anos 90. Desde então, não houve contabilização das visitas.

“Este farol é claramente um ex-líbris da cidade da Praia”, disse, lamentando que durante décadas não tenha podido ser visitado.

Para João Deus, “a melhor forma de preservar um património é fazer com que o popular sinta que o património lhe pertence. E por isso abrimos as portas do farol à sociedade civil e aos turistas”.

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