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Portugueses provam que Kinshasa foi o berço da sida, durante os anos 20

kinshasa Dois portugueses estão entre os 14 cientistas que, num estudo publicado pela Science, mostra que a sida surgiu durante os anos 20 em Kinshasa, no Congo. Depois, uma “tempestade perfeita” ajudou o vírus a tornar-se numa pandemia.

A sida também nasceu na ‘mãe África’. De acordo com um estudo conduzido por 14 investigadores universitários, incluindo os portugueses Nuno Faria e João Sousa, o vírus da imunodeficiência humana (HIV, na sigla internacional) passou pela primeira vez dos chimpanzés (de uma espécie endémica dos Camarões) para um humano.

De acordo com João Sousa, citado pela Lusa, o “paciente zero” terá chegado a Kinshasa em 1920. A cidade, atualmente a capital da República Democrática do Congo (RDC), vivia à época uma grande expansão, alimentada pelas minas e pela rede ferroviária.

De Kinshasa o vírus passou para Brazzaville (capital da República do Congo), através do rio que dá o nome aos dois países, e depois para Lubumbashi e Mbuji Mayi, no sul da RDC. A partir de 1946 foram registadas as primeiras infeções em Bwamanda e Kisangani, ainda na RDC.

O estudo comprovou que o vírus de Kinshasa é o mais antigo e terá beneficiado das doenças sexualmente transmissíveis (como a sífilis) que na altura grassavam na região.

Foi esse primeiro tipo de vírus, o HIV-1 grupo M, que se tornou ‘internacional’ quando a RDC se tornou independente da Bélgica, nos anos 60. Devido a um programa de educação da ONU, muitos professores, em especial haitianos, cumpriram missões na RDC: quando regressaram ao Haiti (e a outros países), levaram com eles um ‘passageiro’ desconhecido.

“No Haiti o vírus propagou-se” nos finais dos anos 60 e no início dos anos 70, acrescentou João Sousa, investigador da Universidade Católica de Lovaina (Bélgica) e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (Universidade Nova de Lisboa).

Como o Haiti era muito procurado por ‘turistas sexuais’, em especial da comunidade homossexual dos EUA, o vírus da sida apanhou mais uma ‘boleia’. Isso justifica, segundo os investigadores, que os primeiros diagnósticos da doença tenham ocorrido com homossexuais norte-americanos.

Na altura em que foi descoberto nos EUA, nos anos 80, o vírus teria já infetado centenas de milhares de pessoas por todo o mundo, segundo os investigadores. A grande diferença é que os EUA tinham meios de diagnóstico eram mais sofisticados.

“Os nossos resultados sugerem que houve apenas uma pequena ‘janela’ de oportunidade, durante a época colonial belga, para a emergência e difusão desta estirpe particular do HIV. Ao que tudo indica, uma combinação de factores que se verificou em Kinshasa no início do século XX criou uma ‘tempestade perfeita’ para a emergência do HIV (pandémico), dando lugar a uma epidemia generalizada e imparável que se difundiu pela África subsariana”, sintetizou Oliver Pybus, num comunicado da Universidade de Oxford.

Uma das partes mais importantes do trabalho, a análise genética de centenas de amostras de vírus (filogenética), ficou sob a responsabilidade de Nuno Faria, da Universidade de Oxford, em Inglaterra.

O resumo do estudo “The early spread and epidemic ignition of HIV-1 in human populations” (“O início da disseminação e propagação epidémica do VIH-1 em populações humanas”) foi publicado na revista Science.

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