Como é que Portugal conseguiria ultrapassar o problema do défice? A resposta é simples: suspendendo o pagamento dos juros da dívida em 2013, já que o Orçamento de Estado consagra uma verba correspondente a 4,4 por cento do défice para pagamento de juros.
Os números são apresentados pelo Conselho Económico e Social (CES), em nova versão do parecer sobre a proposta de Orçamento de Estado para 2013 (proposta muito criticada). E desse parecer resulta um facto inquietante: o problema do défice, que justifica a austeridade, seria resolvido que Portugal ficasse livre de pagar apenas os juros da dívida pública, em 2013.
Nesse ano, o défice ficar-se-ia nos zero por cento, muito abaixo das metas estabelecidas no memorando de entendimento da troika, que obriga Portugal a chegar aos três por cento de défice, no termo do programa de ajustamento.
O CES não sugere que Portugal siga o caminho da suspensão do pagamento de juros – esse cenário não seria viável, nem é esse o caminho do Governo, que pretende cumprir os acordos estabelecidos –, mas apresenta este dado: os juros da dívida são o grande problema de Portugal, com implicação direta na vida dos trabalhadores, dos contribuintes e em toda a economia.
Mas ainda que não sugira um combate aos juros da dívida de Portugal, o CES salienta o peso desta rubrica, sobretudo quando o Orçamento de Estado para 2013 representa um esforço nunca visto, com 80 por cento das verbas conseguidas através de impostos.
A meta de défice que Portugal está obrigado a cumprir é 4,5 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). No Orçamento de Estado, para a rubrica ‘juros e outros encargos’, estão reservados 7,2 mil milhões de euros, que representam 4,4 por cento do PIB. Ou seja, se os credores adiassem o pagamento dos juros (não da dívida), Portugal teria um défice nulo em 2013.
Esta chamada de atenção feita pelo CES junta-se às críticas feitas ao Orçamento de Estado para o próximo ano e a outros dados, como a perda de postos de trabalho, que atinge os 428 mil empregos desde que a intervenção da troika teve início. E entre 2008 e 2013, esse número atinge os 650 mil empregos.
Recorde-se que o Conselho Económico e Social criticou o Orçamento de Estado por ter “metas demasiado ambiciosas” e “reduzida aderência à realidade”. O mais provável, segundo o CES, é Portugal aproximar-se do estado da Grécia, provocando “uma situação de incumprimento reiterado”.
Numa análise ao Orçamento de Estado, o Conselho Económico e Social destaca que o Governo está a “consagrar uma diminuição significativa do nível de proteção social e da despesa social”, além de que Portugal tem um “elevado número de desempregados sem prestações de desemprego, a diminuição do valor das prestações de desemprego e de doença”. leia mais
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