Portugal tem muito poucos “ricos”, lamenta José Miguel Júdice

Portugal tem milhões de pobres e muito poucos ricos. O diagnóstico desta “espiral da realidade” é de José Miguel Júdice e serve para a reflexão: Portugal quer que “os ricos paguem a crise”, mas não tem milionários suficientes.

Num artigo de opinião para o Eco, o antigo quadro do PSD citou vários indicadores económicos para apresentar uma “tese politicamente incorreta”.

A enorme desigualdade, que tanta má fama nos dá no meios internacionais, tem escondido um problema que, mesmo não sendo “comparável”, exige uma resolução, no entender do advogado.

“Há um problema em Portugal que se chama existência de muito poucos ricos”.

O principal argumento para esta tese existe desde 1974: “Os ricos que paguem a crise”, um “famoso slogan” do 25 de Abril.

“Somos muito pobres quando comparados com os outros que integram a OCDE”, alertou Júdice.

“Os ‘ricos’ para pagar a crise são muito poucos”.

Portugal está perante a “tragédia” de querer ser “um Estado Social” mantendo “funções soberanas amblas e que são caras”, insistiu o jurista. “E não temos como o financiar”.

O antigo bastonário da Ordem dos Advogados salientou ainda que Portugal tem tantos “ricos” como os EUA, apesar das enormes diferenças em termos de população e de riqueza gerado.

“Se entendermos que os milionários são os 0,8 por cento mais ricos, então, em Portugal já são famílias milionárias as que levam para casa mais de 8000 euros por mês”, valor que o IRS depois reduz a quase metade.

Feitas as contas, as 37 mil famílias que recebem mais de 8000 euros mensais “pagam mais de 15 por cento do total do IRS que o Estado recebe”, apesar de serem menos de um por cento da população trabalhadora.

No artigo, José Miguel Júdice simplificou vários indicadores económicos, num sumário com quatro tópicos que “choca” e surpreende.

“É, ao mesmo tempo, o país da Europa com mais igualdade entre 99 por dos trabalhadores. É oque tem o salário médio mais próximo do salário mínimo. É um dos mais desiguais. É um dos países que tem os ‘ricos’ mais pobres”, resumiu.

As desigualdades já tinham sido um dos pontos dominantes do discurso do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no final da semana passada.