A qualidade da investigação portuguesa pode ser usada para melhorar a capacidade da gestão dos recursos marinhos de Angola e de Moçambique, defendeu hoje um perito das Nações Unidas.
“Portugal pode ter um papel importante na ajuda à gestão dos recursos marinhos para melhorar a capacidade científica dos países no conhecimento dos seus recursos marinhos e a sua capacidade para os gerir”, afirmou à agência Lusa, Alan Simcock, coordenador do grupo de peritos da avaliação integrada do estado dos Oceanos, da Organização das Nações Unidas (ONU).
O responsável participou na conferência Stress no Oceano – De abordagens multidisciplinares à investigação transdisciplinar, que juntou na Universidade do Algarve, em Faro, especialistas de diversas áreas da investigação marinha e ambiental.
Segundo Alan Simcock, para que os recursos marinhos globais possam continuar a existir é essencial que os países em desenvolvimento tenham uma capacidade de “fazer a gestão dos seus próprios recursos”.
O especialista destacou o potencial marinho de países como Angola e Moçambique, mas considerou que “não têm a capacidade científica para os estudar”, nem meios para os gerir. O conhecimento que Portugal possui nesta matéria “pode ser usado para contribuir para uma melhor gestão dos recursos a nível global”, defendeu.
O especialista apontou o exemplo da Namíbia, país africano, que não pertencendo à Lusofonia, vende os recursos marinhos à União Europeia – numa importante contribuição para o seu orçamento – considerando que seria do maior interesse que fosse o próprio a fazer a gestão desses recursos, para benefício dos pescadores namibianos, defendendo o mesmo para Angola e Moçambique.
Questionado pela Lusa sobre a exploração dos recursos minerais do solo marinho, que poderá advir da expansão da plataforma continental portuguesa – cuja decisão pode ser tomada em 2021 – Alan Simcock relembrou que já se exploraram “30 por cento do planeta”, que estão em terra, “quase até ao seu limite” e é preciso pensar nos próximos passos.
O coordenador do grupo de peritos afirmou que será inevitável explorar os restantes 70 por cento, que estão ambiente marinho, mas é possível fazê-lo de forma a que não se destrua “toda a estrutura do ambiente marinha”.
“É uma questão de se fazer o debate entre o que se quer explorar e o que é necessário preservar. Não se pode ter uma abordagem geral, é necessário tomar decisões caso a caso”, concluiu.