Portugal na vanguarda: Inteligência artificial chega à saúde renal
Portugal está acima da média da UE na adoção de Inteligência Artificial (IA) pelas empresas. Esta tecnologia emergente tem cada vez mais expressão no campo da medicina e saúde.
Foi neste contexto que uma equipa portuguesa desenvolveu e levou a cabo testes piloto, a partir de Portugal, um modelo de IA que promete revolucionar a forma como os médicos e as equipas clínicas podem prever futuros episódios de trombose do acesso vascular entre os doentes em tratamento com hemodiálise.
Este tipo de inovações assume especial relevância porque permite processar e analisar dados médicos em grande escala, identificando precocemente casos, e permitindo uma abordagem preventiva ao tratamento, de forma a impedir a progressão da doença.
Uma equipa da Diaverum, um dos principais prestadores mundiais de cuidados renais, tirando partido do facto de o tratamento renal em Portugal ser um modelo de referência internacional, desenvolveu uma tecnologia que promete revolucionar a forma como os médicos e as equipas clínicas podem prever futuros episódios de trombose do acesso vascular entre os doentes em tratamento com hemodiálise.
A utilização desta nova ferramenta vai arrancar desde já em Portugal, Espanha e Arábia Saudita, que em conjunto representam aproximadamente 12.000 doentes renais. A ambição é ter esta solução disponível nos próximos 18 meses em todos os 24 países onde está presente.
Com a IA, o paradigma do setor está a tornar-se disruptivo sob diferentes perspetivas. Um exemplo claro é o processamento de dados médicos. Na sequência da alta capacidade de processamento de dados que permite, é possível realizar diagnósticos médicos com maior precisão e detetar patologias com pequenas margens de erro.
Se tivermos em conta que uma em cada quatro pessoas no mundo morre de complicações relacionadas com a trombose, que o risco é maior nos obesos (uma amostra da população também em crescimento), e aumenta com a idade, pensa-se que esta prevalência irá duplicar até 2050.
A trombose do acesso vascular, com uma incidência de entre 0.11 a 0.5 episódios por doente a cada ano, é uma das maiores causas de sofrimento dos doentes renais crónicos em hemodiálise e está associada a aumento da mortalidade. Esta patologia está também associada a um aumento do custo dos cuidados de saúde nestes doentes, com forte impacto no Sistema Nacional de Saúde.
As simulações levadas a cabo, com recurso ao histórico de doentes da Diaverum, apontam para uma média de 75% de predição de casos de risco de trombose que antes não tinham sido detetados por outros meios de diagnóstico clínico e sistemas de monitorização de referência.
O modelo agora apresentado compila dados clínicos de cada doente a partir de diferentes variáveis, incluindo valores de tratamento de diálise, resultados de análises laboratoriais, e informação demográfica, prevendo se o doente vai sofrer de um evento de trombose uma semana antes do episódio ter lugar.
A previsão de IA é apresentada à equipa médica acoplada a um conjunto de explicações e argumentos de base científica, permitindo-lhes uma tomada de decisão informada, que permite uma resposta preventiva e personalizada de forma a assegurar o melhor tratamento possível ao nível do acesso vascular.
“Este modelo de tratamento renal foi desenvolvido em torno de uma lógica que dá prioridade à segurança e procedimentos, intervenções padrões pensadas de forma holística, forte gestão clínica e processos de trabalhos digitais, por forma a produzir o melhor resultado médico na ótica do doente. Com este módulo de IA, que não consiste na desumanização do tratamento, muito pelo contrário, as equipas clínicas vão ter ao seu dispor melhores ferramentas preditivas, o pessoal auxiliar vai também beneficiar de maior proximidade com os doentes, os processos serão mais eficientes e os doentes mais bem tratados como resultado disso tudo”, explica Fernando Macário, da Diaverum.
Num futuro próximo, perspetiva, “os cientistas e analistas de dados vão ser integrados também na estrutura dos profissionais de saúde, como membros de uma equipa multidisciplinar, que vai também ter de se ligar aos doentes e a outros profissionais, para proporcionar sempre os melhores e mais personalizados cuidados renais”.
“O impacto destes algoritmos no tratamento de informações, reconhecimento de padrões, no cruzamento de dados e como apoio às estruturas de decisão humanas é já inegável”, assinala.
A inteligência artificial na área da saúde veio para ficar. Na verdade, as previsões para o futuro apontam para uma maior presença da assistência robótica em áreas médicas como a cirurgia. Embora hoje o fator humano ainda seja essencial, o futuro da medicina depende da aplicação indiscutível de tecnologia nos seus processos.